Graduação, residência e novos cenários: conceitos do ensino na medicina de família

7 de junho de 2016

A SBMFC esteve presente no II Fórum de Ensino em Medicina de Família e Comunidade, promovido pela Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade (APMFC) em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio-Libanês, com apoio do British Medical Journal (BMJ), dia 4 de junho, em São Paulo. Com organização de Renato Walch, o evento direcionado a estudantes, docentes e residentes, reuniu mais de 300 pessoas interessadas em conhecer e atualizar dados sobre o ensino da Medicina de Família e Comunidade no País, com o objetivo de compartilhar experiências e debater referenciais teóricos e práticos, refletir os novos programas de residência médica e campos de práticas do médico de família e comunidade, além da Estratégia de Saúde da Família.   

Na mesa de discussão sobre graduação, Irmã Monique Bourget, médica de família e comunidade, que atua no Hospital Santa Marcelina (SP), moderou a atividade que abordou resgate das diretrizes curriculares com Simone Augusta, que apresentou informações sobre a disciplina de MFC no curso da Faculdade de Medicina Einstein (SP), que faz resgate de diretrizes curriculares e o aluno tem contato com Atenção Primária à Saúde em todos os semestres da graduação com encontros semanais. Leonardo Savassi, docente das Universidades Federais de Ouro Preto (UFPO) e de Minas Gerais (UFMG), que apresentou a transformação na grade científica em MFC ao longo dos anos e a reforma curricular de ambas universidades.

“Do 1º ao 4º período, a MFC deve estar presente, é algo ideal no ciclo clínico longitudinal.Se fosse escolher um lugar do MFC, que não seja circulatório, tem que ser a especialidade clínica e deve-se enxergar nos internatos uma grande ruptura ao longo currículo que é pouco dedicada e há falhas no preceito da especialidade que precisam ser discutidas”, explica Savassi.

Ao fechar o debate sobre graduação, Valéria Vernaschi, docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR-SP), indica que o ensino em MFC está em processo de gestação e desenvolvimento há 20 anos e, em cada experiência, há avaliação do eixo de tecnologia. “O desafio é transformar o cuidado com a articulação entre hospital e Atenção Primária”, explica Valéria.

Sobre residência, José Carlos Arrojo Júnior, da Faculdade Santa Marcelina e AMIL (SP), abriu a mesa que, segundo ele, tinha dois (?) grandes motivos para acontecer: o peso dos organizadores do evento – o Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio-Libanês, a Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade (APMFC) e o gabarito dos participantes da atividade. Arrojo concedeu ainda um conselho aos presentes, para participarem da Medicina de Família e Comunidade de forma integral e ocuparem os espaços disponíveis.

Altair Massaro, que atua no Hospital Sírio-Libanês (SP), informou dados sobre preceptoria de residência médica no Sistema Único de Saúde (SUS), com um conjunto de cursos como o PROAD, que envolve seis hospitais com filantropia com retorno de 70% da verba que é revertida em educação. “A preceptoria no SUS não é nova, teve início em 2012. A de residência médica é mais nova, pois é ligada ao Programa Mais Médicos”, explica Massaro.

A necessidade de modelo assistencial no Brasil, o SUS é baseado na APS? E quais são os interesses? Com esses questionamentos, Francisco Arsego, do Ministério da Educação e Cultura (MEC), explicou no Fórum que o SUS tem papel constitucional de ordenador de recursos humanos na área da saúde e que a formação do médico deve ter compromisso social. Na ocasião, Arsego pontuou diversas necessidades com prioridades de ajustes para que o ensino e a adesão na RM tenham pleno funcionamento no Brasil como: capacitação para gestão do sistema e gestão de ensino; recursos financeiros para implementar mudanças para se ter um SUS de 1º mundo; atualização da legislação da RM; e definir competências do médico-residente em formação. Ainda de acordo com ele, a graduação não deve ser terminal, mas sim integrada à residência médica.

A participação de Thiago Trindade, presidente da SBMFC, foi sobre residência médica em Medicina de Família e pode ser conferida em SBMFC reforça que 40% das vagas de RM sejam destinadas à MFC.

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS/SP), representada por Renata Fregonezzi, tem vagas em RM com dois eixos de atuação: qualificação em rede e organizador de mudanças na formação de residentes. “O município tem aproximadamente 12 milhões de pessoas e a organização da rede de atenção à saúde configura-se em seis coordenadorias regionais de saúde, sendo a gestão dos serviços de saúde, uma gestão pública. Especialmente na Atenção Básica, há na estratégia da saúde da família com cobertura de 40% do município que engloba 1310 equipes”, ressalta Renata.

O tema “Novos cenários de prática para o MFC” foi debatido de mesa mediada por Giuliano Dimarzio, presidente da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade (APMFC), com argumentações de Fernando Faraco, da Unimed Guarulhos, que explicitou que, se há problemas de recursos no SUS, há problemas de qualidade na saúde suplementar, com um cenário atual com cada vez mais de gastos.

Gustavo Gusso, diretor científico da SBMFC, fez uma abordagem história ao explicar que a MFC foi implementada no Brasil em 1981, e é mais antiga do que a de Cuba, datada de 1985. “De início no Brasil, houve uma resistência para mudar a formação de ensino médico com foco na Atenção Primária à Saúde como em países como Holanda, Inglaterra”, explicou o médico que atua na AMIL. Além disso, atualizou o conceito que define a MFC na APS, que é pontual em quatro vertentes: acesso, coordenação, integralidade, longitudinalidade e o que não define são os tópicos: crônico, pobre e prevenção, e que existe APS em outras especialidades.

Sobre o sistema de cobertura de 105% de Atenção Primária no município de Florianópolis (SC), Nulvio Lermen Jr, diretor de titulação da SBMFC, que atua na Secretaria de Saúde Municipal da cidade, ressaltou que 80% da população atendida passa pela Atenção Primária, que teve uma grande expansão regional a partir de 2004, ocasionando a diminuição no tempo de espera para consulta nas demais especialidades. “O investimento per capita é um dos menores do estado, mas o resultado é de destaque na América Latina, tanto que nosso índice de mortalidade infantil é o mesmo que o dos Estados Unidos e o melhor da América Latina”, explica Lermen.

E ao finalizar o fórum, Renato Walch, médico de família e comunidade que atua no Hospital Sírio-Libanês e coordena a Atenção Primária direcionada aos seis mil colaboradores da instituição, chamou a atenção sobre como foi feita a implementação da estratégia de atendimento e os resultados benéficos que proporcionam mais qualidade de vida e reduzem o número de doenças ocupacionais.

Walch, que também coordenou o evento, resume o balanço do fórum como positivo e espera repetir o formato mais vezes para propagar a medicina de família entre os estudantes e interessados na área. “A primeira edição do Fórum foi em 2014 e este ano fizemos em revezamento com o Congresso Paulista de Medicina de Família, que será realizado ano que vem. A atividade também instiga a curiosidade sobre o que se está discutindo, principalmente para aqueles que estão tão envolvidos com a prática clínica e, por falta de tempo, não conseguem absorver o que está em sua volta quando se trata da especialidade”, finaliza.