Mamografias salvam vidas, mas levam a tratamento desnecessário

8 de novembro de 2012

O rastreamento de câncer de mama por meio de mamografias para mulheres com mais de 50 anos ajuda a salvar vidas, afirma um comitê independente do Reino Unido. A conclusão confirma os resultados de outras pesquisas.

Mas isso tem um custo: a revisão de estudos descobriu que para cada mulher salva, outras três recebem tratamento desnecessário contra um câncer que nunca teria ameaçado suas vidas. A análise foi publicada na revista médica "Lancet".

O comitê de especialistas foi chefiado pelo Cancer Research U.K. e o departamento de saúde britânico e analisou evidências de 11 estudos no Canadá, na Suécia, no Reino Unido e nos EUA.

No Reino Unido, as mamografias são indicadas a mulheres de 50 a 70 anos a cada três anos como parte de um programa do governo de rastreamento de câncer.

Cientistas disseram que o programa britânico evita que cerca de 1.300 mulheres morram todos os anos de câncer de mama enquanto 4.000 mulheres recebem sobrediagnóstico, ou seja, são tratadas contra cânceres que crescem muito lentamente e nunca chegariam a incomodá-las, mas que são detectados nos testes preventivos.

"Está claro que o rastreamento salva vidas", disse Harpal Kumar, do Cancer Research U.K. "Mas alguns tumores que nunca causariam qualquer dano serão tratados, e infelizmente não sabemos dizer quais serão prejudiciais ou não."

A cada ano, mais de 300 mil mulheres de 50 a 52 anos recebem indicações de mamografias. Nos próximos 20 anos de rastreamento a cada três anos, 1% delas vai passar por tratamentos desnecessários, como quimioterapia, cirurgia ou radioterapia para um câncer de mama que nunca causaria danos.

Alguns críticos disseram que a revisão é um grande passo. "Instituições de caridade de câncer e autoridades de saúde pública vêm iludindo mulheres nas últimas duas décadas ao mostrar um lado ‘rosa demais’ dos benefícios [do rastreamento de câncer por mamografias]", disse Karsten Jorgensen, pesquisadora do Nordic Cochrane Centre em Copenhague que já publicou estudos sobre o sobrediagnóstico.

Nos EUA, o U.S. Preventive Services Task Force (grupo formado por especialistas em prevenção que fazem recomendações quanto ao rastreamento de doenças em pessoas sem sintomas após extensa revisão de estudos publicados) recomenda que mulheres com risco moderado de câncer de mama façam mamografias a cada dois anos a partir dos 50. Mas a Sociedade Americana de Câncer e outras entidades recomendam que o exame seja feito anualmente a partir dos 40 anos.

Recentemente, o programa britânico de rastreamento de câncer de mama foi acusado de ressaltar os benefícios do exame e diminuir seus riscos.

Fonte: Folha