A vacina contra dengue não é a solução

21 de setembro de 2016

 Por Ana Paula Marcolino e Antônio Modesto, médicos de família e comunidade, membros da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade 

 
Apesar de todo o esforço para combater os criadouros do Aedes aegypti, a dengue continua sendo um grande problema de saúde pública. Em 2016, foram registrados 1.399.480 casos prováveis de dengue no país até o mês de julho; 900.163 dessas foram confirmadas e 419 pessoas morreram por conta da doença.
 
O vírus tem quatro sorotipos e quem tem a doença fica imune contra o sorotipo que a infectou. Há alguns anos, os cientistas vêm pesquisando vacinas para a doença, e recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a comercialização de uma vacina para a doença. Fabricada pela Sanofi Pasteur, embora a vacina tenha eficácia demonstrada por estudos, seria de no máximo 80% para um dos quatro sorotipos. Os estudos demonstram também, diminuição de 11% do número de internações. Custa cerca de R$ 138 reais, dependendo dos impostos e pode chegar a 250 reais em serviços particulares. O esquema de vacinação consiste em três doses, sendo assim, o tratamento completo deve custar cerca de R$ 750 reais.  O uso é recomendado na faixa etária de 9 a 45 anos de idade.
 
Há o benefício da porcentagem de imunidade prometida e do número de internações. Porém, devemos alertar para alguns questionamentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não recomenda o uso a não ser em países de alta endemicidade. Sabe-se que um dos grupos de risco para complicações pela dengue são os idosos, bem como as crianças pequenas. Essa faixa etária não é inserida como indicativa de vacinação, tendo em vista os riscos da mesma. 
 
Outra situação é sem dúvida o valor do esquema completo. Fica bem claro na bula fornecida pelo fabricante que a imunidade prometida só é atingida após o esquema de três doses. É um valor bastante alto pensando que não atinge a população de risco para complicações pela doença, além disso, ao longo do tempo de espera entre as doses, a pessoa segue propensa a ser infectada pelo vírus ao ser picada pelo mosquito Aedes aegypit.
 
Sem dúvida, a dengue é um problema de saúde pública. Porém, o investimento em saneamento, limpeza dos espaços públicos e uma atenção primária acessível e qualificada (contratação de profissionais capacitados, estrutura adequada para assistência e prevenção) sendo as ações custo efetivas para resolução de tal problema.