Choosing Wisely: a iniciativa da SBMFC

30 de maio de 2017

A iniciativa da SBMFC na Choosing Wisely Brasil foi apresentada por Gustavo Gusso, Diretor de Publicações da Sociedade e coordenador do projeto, e deu origem à primeira lista de recomendações enviada para a organização do CWB com objetivo de definir os cinco tópicos que devem ser base de orientação para médicos de família e profissionais atuantes na Atenção Primária no Brasil. A aula foi realizada no Simpósio Choosing Wisely e Slow Medicine – Caminhos Compartilhados, realizado dia 27 de maio, na sede da Associação Paulista de Medicina.

A diretoria da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) elencou 25 recomendações através das iniciativas de Choosing Wisely (CW) das entidades científicas de medicina de família do Canadá, Estados Unidos da América, Austrália e Inglaterra e também buscou outras na literatura. Os sócios da SBMFC puderam votar em área restrita durante o mês de junho de 2016 em até três recomendações.

“Na época, em 2015, eu era diretor científico da Sociedade e junto ao Grupo de Trabalho de Prevenção Quaternária, demos o ponta pé no projeto. E mais difícil que votar em quais tópicos serão levados a diante, é fazer os textos, porque não podem ser imprecisos, devem ser assertivos e que dialoguem com o público científico, formado na área da saúde, mas também com a população leiga”, explica Gusso. Para saber mais detalhes sobre as cinco recomendações da SBMFC, acesse: http://www.sbmfc.org.br/choosingwisely/.

Recomendações clínicas da SBMFC na Choosing Wisely Brasil:

1.Não fazer de rotina PSA ou toque retal para rastrear câncer de próstata – Os estudos disponíveis demonstram que o exame de rotina para câncer de próstata de forma populacional (através de campanhas) traz mais riscos do que benefícios. Ou seja, os falsos positivos, falsos negativos e sobrediagnósticos sobrepõem-se aos benefícios. O exame mais estudado por ser padronizado é o PSA. O toque retal é menos estudado e depende da habilidade do profissional. Como qualquer ação preventiva, pode ser individualizada.

2.Não prescrever inibidor de bomba de prótons continuamente – Os inibidores de bomba de prótons como omeprazol, pantoprazol e esomeprazol são medicações importantes no tratamento das dispepsias e úlceras gástricas. Porém, é frequente terem a prescrição de forma continua para “prevenir gastrite”. Esta prática deve ser evitada e o tratamento em geral deve ser por um tempo definido, que comumente não passa de oito semanas. Há a suspeita de que o uso contínuo de inibidores da bomba de prótons cause deficiência de vitamina B12.

3.Não solicitar exame de vitamina D em adultos de baixo risco – Não há evidência de que o exame de rotina de Vitamina D traga o benefício de prevenir fraturas ou outras consequências da osteoporose. A metabolização da Vitamina D envolve a radiação solar e a pouca exposição ao sol pode ser a causa da deficiência de vitamina D. Porém, a mesma radiação causa câncer de pele e, portanto, o recomendado é a exposição moderada em horários com menos incidência. Mesmo sendo prevalente, os estudos não concluem que o rastreamento de deficiência de vitamina D na população geral traga benefício.

4.Não solicitar exame de sangue anual de rotina, exceto se indicado pelo risco individual – Não há um conjunto de exames de sangue que devem ser solicitados de rotina para toda a população com uma periodicidade pré-determinada (por exemplo, anualmente). Os exames e a periodicidade devem ser individualizados e os mais frequentemente incluídos são glicemia de jejum e perfil lipídico (colesterol) após os 40 anos. Toda solicitação de exames de rastreamento, ou seja, quando não há sinais, sintomas ou doença, deve ser realizada após a conversa com um médico geral para que o conjunto de exames e a periodicidade destes seja direcionada pelos riscos individuais. Os ensaios clínicos randomizados não demonstraram benefício dos check ups anuais pré-estabelecidos.

5.Não prescrever antibióticos para infecções respiratórias superiores que tem alta probabilidade de ser viral – Infecções de vias aéreas superiores são comuns e dentre elas as mais frequentes são as virais. Na maioria das vezes o diagnóstico é clinico e sintomas como febre baixa e ausência de pus na garganta são indícios de baixa probabilidade de serem bacterianas. Nestes casos não é necessária a identificação do vírus. Muitas vezes o quadro se prolonga por uma semana e o desejo do paciente melhorar rápido leva a uma busca pelo antibiótico, o que em geral ocorre já no final do quadro dando a impressão de que foi o medicamento que causou a melhora. O antibiótico não muda o curso do problema quando a causa é viral.

“Estamos propondo uma nova lista a partir da criação de um comitê com profissionais voluntários e além das recomendações clínicas, queremos sugerir ao Choosing Wisely o que o No Hacer produziu na Espanha, recomendações administrativas que para nós que atuamos na Atenção Primária são muito importantes e interessantes. Não têm evidência científica como as que recomendamos clinicamente, mas são indicações administrativas e burocráticas elaboradas a partir de consenso do que ‘não devemos fazer’, que são tópicos discutidos na Atenção Primária e essas questões administrativas são relevantes para fazer a parte clínica com os pacientes”, reforça.

Lista administrativa inicial (para ser submetida ao comitê da SBMFC):

ž  Não fornecer atestados médicos a posteriori

ž  Não fornecer atestados médicos a crianças e adolescentes para justificar falta em provas

ž   Não fazer agenda verticalizada

ž  Não incentivar programas verticais que carregam grande custo de oportunidade

ž  Não oferecer apenas consultas agendadas

ž  Não registrar cada consulta pelo método de internação: Queixa e Duração, História Pregressa da Moléstia Atual.

ž  Não obrigar a presença de acompanhantes em todas as consultas de adolescentes entre 12 e 18 anos

 

O novo comitê está com previsão para ser criado em junho de 2017 para uma nova rodada de recomendações. Novas informações serão divulgadas em breve.