SBMFC entrevista Daniel Knupp: vamos falar sobre representatividade da especialidade pela SBMFC?

19 de outubro de 2018

Daniel Knupp é presidente da SBMFC, gestão 2018-2020, médico de família e comunidade, atuante em Belo Horizonte, Minas Gerais, médico cooperado da Unimed Belo Horizonte, onde atua em serviço de atenção primária e em outras unidades assistenciais da cooperativa.

SBMFC: Como é a representação dos médicos de família e comunidade pela SBMFC? 

Daniel: A SBMFC é a entidade científica responsável pela representação dos médicos de família e comunidade e da especialidade. De acordo com nosso estatuto, são objetivos da SBMFC promover o desenvolvimento da Medicina de Família e Comunidade, fomentar o intercâmbio científico, técnico, cultural e social entre os MFCs, zelar pelo aperfeiçoamento e desenvolvimento profissional contínuo dos MFCs. No dia a dia, a SBMFC busca executar sua função da interlocução com entidades médicas, na organização de eventos científicos, na produção de conteúdos diversos, etc.

SBMFC: Em quais esferas a SBMFC atua como representante da especialidade? 

Daniel: A atuação da SBMFC é ampla. Vai desde a interlocução com órgãos governamentais em todas as esferas, passando pela atuação junto às entidades médicas e chegando finalmente ao diálogo com os médicos de família e comunidade diretamente.

SBMFC: Quais são as atuais ações para defesa da especialidade? 

Daniel: No nosso entendimento, a principal defesa da especialidade está no zelo com o seu desenvolvimento científico, na busca pela excelência e solidez na formação de médicos de família e, muito importante, na defesa da importância do MFC para todos os sistemas de saúde. Mais especificamente, a diretoria de exercício profissional atua junto às câmaras técnicas de MFC dos conselhos, junto à comissão de defesa profissional da AMB, monitora concursos e processos seletivos que ofereçam vagas para os MFCs a fim de verificar se de fato o espaço para a especialidade está sendo respeitado.

SBMFC: Há campanhas em planejamento com foco na valorização do MFC? 

Daniel: Sim. Além das comemorações relativas ao Dia do MFC no Brasil e no mundo, temos o trabalho diuturno da diretoria de comunicação e da assessoria de comunicação para movimentar nossas mídias sociais, divulgar a especialidade, seus valores e conceitos principais. Infelizmente não possuímos recursos para arcar com campanhas de maior porte, em grandes mídias, mas acreditamos que o trabalho que vem sendo feito tem auxiliado em muito na valorização da especialidade.

SBMFC: O SUS completa 30 anos em outubro. É possível o MFC se tornar gatekeeper como em países que tem a APS como referência? 

Daniel: Considerando a cobertura da ESF no país, podemos dizer que no Brasil o MFC já se tornou o gatekeeper como em países com a APS forte. Há ainda muito a se fazer no sentido de qualificar esse papel, em especial garantir que os médicos que atuem em serviços de APS sejam de fato MFCs. Além disso, é preciso buscar a expansão desse modelo para todo o sistema, com a ampliação da cobertura da ESF e a reforma do modelo de atenção que vem se iniciando na Saúde Suplementar.

SBMFC: As operadoras estão reconhecendo a importância do médico de família no atendimento aos pacientes. Como a SBMFC vê essa abertura de oportunidades de emprego nesse mercado? 

Daniel: A participação do MFC nesse espaço que vem se criando é fundamental para o futuro da especialidade no país, pois é uma franca sinalização da importância da MFC e dos sistemas de saúde baseados na APS. Esse reconhecimento fortalece a especialidade no âmbito geral, portanto, é algo que vai muito além das oportunidades de trabalho para os profissionais. Além disso, estamos falando de 1/4 da população brasileira, que está exposta a serviços de saúde que se organizam de uma forma potencialmente prejudicial à saúde das pessoas. Há uma necessidade premente de mudança. Em suma, costumo dizer: Se o MFC não puder ser para todos, não será para ninguém.

SBMFC: Por falar em atuação do MFC, não é apenas na clínica, mas também como gestores, professores, preceptores. Como é possível garantir uma valorização e representatividade nesses cargos? 

Daniel: Certamente, a SBMFC, na interlocução entre duas diretorias, como a diretoria de graduação e pós-graduação stricto sensu e a diretoria de exercício profissional, busca garantir a valorização e a representatividade do MFC também nessas áreas.

SBMFC: Atualmente somos cinco mil médicos de família e comunidade. Há uma expectativa de crescimento para os próximos anos? 

Daniel: Com a ampliação da oferta de vagas de residência em MFC nos últimos anos, tem sido formados pelo menos mais 500 novos médicos de família por ano. E a perspectiva é de crescimento desse número, considerando a ocupação atual das vagas de residência em MFC. Além disso, também temos observado um crescimento pela procura da prova de título. Desse modo, não seria nenhum exagero pensar em um crescimento do número de médicos de família e comunidade na ordem de mais mil especialistas por ano num cenário de curto prazo.

SBMFC: E como fortalecer a especialidade desde o ensino médico? 

Daniel: A inserção da especialidade na graduação em medicina tem um caráter fundamental para a formação médica no geral, não apenas para formar o MFC. A premência da abordagem centrada na pessoa e da visão ampliada do indivíduo são aspectos fundamentais nesse sentido, e ao mesmo tempo são as linhas conceituais que devem ser buscadas para o fortalecimento da MFC no ensino médico. A SBMFC vem atuando junto às universidades, ao Ministério da Educação e a ABEM para garantir o fortalecimento da especialidade na graduação. Penso que já avançamos muito em relação ao cenário de poucos anos atrás e já é possível dizer que certos conceitos ligados à MFC já foram assimilados de tal forma no ensino médico que não há como retroceder.

SBMFC: Como presidente da SBMFC, quais são as razões dos últimos ataques sofridos por outras especialidades? E qual tem sido o papel da SBMFC nesse âmbito? 

Daniel: Na aproximação às entidades médicas, em particular o CFM e a AMB, a SBMFC tem buscado resolução para esses conflitos. Fundamentalmente, no diálogo com essas entidades e com outras sociedades, sempre fazemos uma defesa pautada em uma argumentação cientifica sobre a importância da especialidade para o cuidado à saúde das pessoas e para os sistemas de saúde.

SBMFC: Qual a importância de um médico de família e comunidade ser membro da SBMFC? 

Daniel: A importância principal está na identificação com a especialidade e seus valores. Nosso entendimento é o de que a SBMFC é em essência o conjunto de seus sócios. Além disso, os sócios são a base de sustentação para as ações das SBMFC. A manutenção da SBMFC isenta de conflitos de interesses com a indústria farmacêutica só é possível por causa da colaboração dos sócios. Além disso, há uma série de benefícios voltados aos sócios, como, por exemplo, os descontos em congressos e cursos e nos produtos de editoras parceiras.