Mitos LGBTIA+: Assexualidade

4 de julho de 2020

Este é o sétimo  texto de uma série de mitos sobre a saúde da população de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexo, assexuais e demais pessoas com variabilidade de gênero ou de orientação sexual (LGBTIA+).

Os primeiros conteúdos sobre LGBTIA+fobia institucional, pessoas intersexo, pessoas trans, bissexualidade, lésbicas e gays estão disponíveis no link

A atividade produzida pelo Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da SBMFC desmistifica pensamentos e ideias que são comuns na prática clínica. 

O conteúdo desta página aborda mitos sobre assexualidade e foi desenvolvido por Ademir Lopes Junio e Ana Paula Andreotti Amorim, médicos de família e comunidade, membros do GT e Walter Masteralo Neto, pessoa assexual e coordenador do núcleo de saúde e diversidade da OAB. 

 

Mito 1. Assexualidade não existe

Resposta: Assexualidade é uma orientação sexual, assim como a homo, hetero ou bissexualidade. As pessoas assexuais não sentem atração sexual por outras pessoas, ou sentem muito pouco, ou apenas em algumas situações. Pessoas que sentem muito pouca atração são consideradas gray-sexuais, pois se localizam na interface entre os alossexuais (pessoas que sentem atração) e os assexuais. Outras variações da assexualidade são pessoas que sentem atração apenas quando há alguma relação afetiva, denominadas demissexuais, ou aqueles que se sentem atraídas especialmente pela inteligência dos outros, sapiossexuais, dentre outros.

Referência:  The Asexual Visibility & Education Network. Disponível em www.asexuality.org/?q=general.html

 

Mito 2. Assexuais são pessoas frias e incapazes de construir relações afetivas

Resposta: Uma ideia comum é de que assexuais são incapazes de construir relações afetivas. Assexuais, como pessoas de qualquer outra orientação sexual, são capazes de estabelecer diferentes formas de relacionamentos afetivos, sejam esses românticos ou não.
Referência: Dawson, M., McDonnell, L. and Scott, S. (2016) Negotiating the boundaries of intimacy: the personal lives of asexual people. Sociological Review, 64(2), pp. 349-365.

 

Mito 3. A assexualidade é uma forma de celibato ou abstinência

Resposta: A assexualidade é diferente do celibato e da abstinência. A assexualidade é uma orientação sexual, o celibato e a abstinência são comportamentos. Uma pessoa assexual não sente, ou sente pouca atração sexual por outras pessoas e pode ou não, decidir praticar atividades sexuais. Uma pessoa celibatária não pratica sexo por algum motivo, nem sempre por sua escolha, enquanto, na abstinência, uma pessoa escolhe não praticar sexo.
Os conceitos podem se sobrepor, mas não se confundem. Uma pessoa assexual poderia ser celibatária ou abstinente, sem que os conceitos se tornem confusos.

Referência: http://www.asexualityarchive.com/asexuality-and-celibacy-whats-the-difference/#:~:text=Asexuality%20describes%20an%20orientation%2C%20not%20a%20behavior%2C%20while%20celibacy%20is,may%20not%20be%20having%20sex.

 

Mito 4.  Assexuais não enfrentam preconceitos, opressão e discriminação
Resposta: Ao contrário do que se acredita frequentemente, assexuais enfrentam preconceitos, opressões e discriminações. As pesquisas indicam que as precariedades e vulnerabilidades associadas com a visibilização e não reconhecimento das experiências assexuais, leva a taxas ligeiramente mais altas de suicídio e tentativa, retraimento social e problemas interpessoais comparados com grupos heterossexuais e não heterossexuais.

Referência: Borgogna, N. C., et al. (2018) Anxiety and Depression Across Gender and Sexual Minorities: Implications for Transgender, Gender Nonconforming, Pansexual, Demisexual, Asexual, Queer, and Questioning Individuals

 

Mito 5. Assexualidade é resultado de doença, trauma ou influxo hormonal

Resposta: A ausência e a pouca atração sexual por muito tempo foram consideradas patologias, que requisitariam intervenções de profissionais de saúde. A assexualidade, como uma orientação sexual, não pode ser confundida com uma doença, ou o resultado de um trauma ou influxos hormonais. Inúmeras pesquisas mostram que os indivíduos autoidentificados como assexuais não possuem traumas e alteração dos níveis hormonais esperados. Uma das grandes lutas do movimento assexual para a despatoloização foi a anotação, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição (DSM-V), para que pessoas autoidentificadas como assexuais não recebam diagnósticos de TDSH, mas isso não considera que esse sofrimento possa ser gerado por uma cultura sexonormativa, que exclui e gera sofrimento daqueles que não cumprem o padrão de desejo sexual. O DSM denomina de maneira diferente a baixa atração/desejo sexual, para homens e mulheres cis, denotando o quanto a expectativa social voltada à sexualidade de homens e mulheres cis é diferente (uma consequência do machismo estrutural) e contamina a área da “ciência”, que a princípio se propõe neutra a julgamentos e padrões culturais.

Referência: American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5®️). American Psychiatric Pub; 22 mai 2013.

 

Mito 6. A assexualidade é uma criação moderna da internet

Resposta: A assexualidade somente tornou-se grande conhecida do público, como orientação sexual, a partir da AVEN, uma comunidade virtual, fundada em 2001, que buscava difundir informações e visibilidade sobre a assexualidade. Todavia, registros de ativistas e discussões sobre a assexualidade são anteriores. Um dos registros mais antigos da assexualidade, entendida uma orientação sexual, pode ser encontrado no “Manifesto Assexual”, escrito por Lisa Orlando, e publicado em 1972 pelo New York Radical Feminists (NYRF). A comunidade assexual se utilizou da internet para criar uma rede de ativistas e suporte mundial, com a existência de ativismo assexual em diversas partes do globo.

Referências: BRIGEIRO, M. A emergência da assexualidade: notas sobre política sexual, ethos científico e o desinteresse pelo sexo. Sex., Salud Soc. (Rio J.), Rio de Janeiro, n. 14, p. 253-283, Aug. 2013

 

Mito 7. Assexuais não praticam sexo e não sentem desejo sexual

Resposta: Assexuais, embora não sintam atração sexual, ou sintam pouca atração sexual, podem voluntariamente se envolver em atividades sexuais, pelas mais variadas razões: satisfazer parcerias, satisfação pessoal, ter filhos. Embora existam assexuais que não possuem interesso em sexo, e em geral, assexuais não tenham seu desejo direcionado ao sexo, mas sim para outros processos, muitos encontram no sexo uma atividade que pode ser prazerosa ou uma ponte de conexão com suas parcerias.

Referências: Yule, M.A., Brotto, L.A. & Gorzalka, B.B. Sexual Fantasy and Masturbation Among Asexual Individuals: An In-Depth Exploration. Arch Sex Behav 46, 311–328 (2017).

 

Mito 8. Pessoas assexuais são assexuadas

Resposta: Assexuados são seres vivos que se reproduzem sem troca de gametas. Pessoas que não sentem atração sexual por outras são chamadas assexuais. Chamar uma pessoa assexual de assexuada é pejorativo.

Referência: www.assexualidade.com.br