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Mitos LGBTIA+: Gays

3 de julho de 2020

Este é o sexto texto de uma série de mitos sobre a saúde da população de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexo, assexuais e demais pessoas com variabilidade de gênero ou de orientação sexual (LGBTIA+).

Os primeiros conteúdos sobre LGBTIA+fobia institucional, pessoas intersexo, pessoas trans, bissexualidade e lésbicas estão disponíveis no link

A atividade produzida pelo Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da SBMFC desmistifica pensamentos e ideias que são comuns na prática clínica. 

O conteúdo desta página aborda mitos sobre homens gays e foi desenvolvido por Ademir Lopes Junior, Bruno Stelet e Guilherme Antoniacomi, médicos de família e comunidade, membros do GT. 

 

Mito 1. Gays só vão ao médico para tratar infecções sexualmente transmissíveis.

Resposta: Embora a incidência de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e HIV seja maior entre homens cis gays, essas pessoas têm inúmeras outras necessidades e tendem a procurar serviços de saúde, desde que estes sejam acolhedores. Alguns problemas de saúde dos homens cis gays têm frequência semelhante à população geral, mas outros, infelizmente, tem maior incidência, como depressão, ansiedade, abuso de substâncias, transtornos alimentares e problemas decorrentes da homofobia.

Referência: CARDOSO, Michelle Rodrigues; FERRO, Luís Felipe. Saúde e população LGBT: demandas e especificidades em questão. Psicologia: ciência e profissão, v. 32, n. 3, p. 552-563, 2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932012000300003>. Acesso em 03 jul 2020.

 

Mito 2. Gays não podem ter filho.

Resposta: Casais de homens cis gays podem adotar filhos no Brasil e registrar o nome dos dois pais na certidão de nascimento, segundo normativa do Conselho Nacional de Justiça. Além disso, a reprodução assistida é autorizada pelo Conselho Federal de Medicina e viabilizada por meio da doação de óvulos e da gravidez por substituição. Na gravidez de substituição, ou solidária, uma mulher empresta seu útero para a gestação, cuja fecundação ocorre com o gameta de um dos parceiros e um óvulo doado. A mulher precisa ter parentesco consanguíneo em até quarto grau com um dos pais.

Referência:

Resolução CFM 2.168/2017. Disponível em https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2168

CNJ. Provimento nº 64, de 14 de novembro de 2017.

 

Mito 3. Não existe violência doméstica entre casais de homens gays.

Resposta: Estudos sugerem taxas de violência por parceiro íntimo entre casais gays aproximadamente na mesma taxa que entre casais heterossexuais. No entanto há duas diferenças marcantes: praticamente esse tipo de violência não é abordada nos serviços de saúde; e efetivamente não há uma rede de apoio institucional para homens que sofreram violência por parceiro íntimo. Os dados são difíceis de checar, já que esse tipo de violência é subnotificada. Os programas governamentais de acolhimento a vítimas de estupro, por exemplo, raramente estão preparadas para lidar com vítimas masculinas, especialmente gays. Acreditamos que seja importante discutir com os pacientes se eles já foram agredidos física ou emocionalmente para que planos de cuidados mais integrais sejam propostos.

Referência:

DA LUZ, Rafael Reis; GONÇALVES, Hebe Signorini. Violência doméstica entre casais homossexuais: a violência invisível. Bagoas-estudos gays: gêneros e sexualidades, v. 8, n. 11, 2014.

 

Mito 4. Homens gays que usam PrEP não precisam usar camisinha.

Resposta: A PrEp (Profilaxia Pré-Exposição) é um método de prevenção à infecção do HIV, que consiste na tomada diária de um comprimido, direcionada, no Brasil, à população-chave: gays e outros homens que fazem sexo com homens; pessoas trans; trabalhadores (as) do sexo. Ela faz parte do programa de Prevenção Combinada, que associa diversos métodos de prevenção ao HIV, às IST e às hepatites virais. Se tomada corretamente, a PrEP impede que a infecção do HIV se estabeleça, mas nada interfere na prevenção das outras ISTs.

Referência:

Ministério da Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Disponível em /www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/profilaxia-pre-exposicao-prep. Acesso em 03 jul 2020

Ministério da saúde. Prevenção combinada. Disponível em www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/previna-se. Acesso em 03 jul 2020.

 

Mito 5. homens gays afeminados são “passivos” e homens gays masculinos são “ativos”.

Expressão de gênero é o comportamento e atitudes manifestas que são qualificadas socialmente como pertencente ao gênero feminino ou masculino, como roupas, tom de voz, estilo de caminhada etc. Prática sexual é o que se faz e relação a atividade sexual (beijar, penetrar, ser penetrado etc). A expressão de gênero (ser mais ou menos “afeminado”) não tem correlação com o tipo de prática sexual, como ser penetrado ou penetrar. Além disso, as palavras “passivo” e “ativo” foram construídas numa estrutura machista de relações de poder, na qual ser penetrado “como mulher” seria ocupar um espaço de submisso/passivo, enquanto penetrar “como homem” seria ser dominador/ativo. Entretanto, a pessoa que é penetrada (“o passivo”) não precisa ser necessariamente submissa a quem penetra (“o ativo”), ou vice-versa.

Referência:

LOPES JUNIOR, Ademir, AMORIM Ana Paula Andreotti; FERRON, Mariana Maleronka. Sexualidade e Diversidade. In: GUSSO. Gustavo; LOPES José Mauro Ceratti; DIAS. Porto Alegre. Artmed, 2019.

 

Mito 6. Homens gays podem ser facilmente identificados por certos maneirismos ou características físicas afeminadas.

Resposta: As pessoas LGBTIA+ têm tantas formas, cores e tamanhos diferentes quanto as pessoas que não o são. A expressão de gênero (como a pessoa se comporta, se veste etc) não tem relação com a sua orientação sexual. Há, no entanto, algumas características identificadas e performadas como parte de uma cultura gay hegemônica, como drag-queens e drag-kings, o uso de vestimentas de couro e outros elementos vibrantes como roupas, música, arte, história e linguagem. Entretanto, essa é apenas uma construção cultural do que se entende por “cultura gay”, que também não é exclusiva de gays e nem significa que todos os gays partilhem desses valores e comportamentos.

Referência:

LOPES JUNIOR, Ademir, AMORIM Ana Paula Andreotti; FERRON, Mariana Maleronka. Sexualidade e Diversidade. In: GUSSO. Gustavo; LOPES José Mauro Ceratti; DIAS. Porto Alegre. Artmed, 2019.

PRADO, Artur. “Como ser gay”, o novo livro de David Halperin. Revista Cult. 2017

 

Mito 7. homens gays não são machistas e nem misóginos.
Homens gays foram educados socialmente como homens e, portanto, para ter privilégios em relação às mulheres. Embora a própria homofobia seja fruto do machismo e da misoginia, e vulnerabilize os homens gays, isso não impede que esses tenham atitudes machistas e misóginas, ou mesmo homofóbicas. Entretanto, quando um homem gay tem uma atitude homofóbica, isso agride a outros, mas também a si próprio. Por outro lado, brincadeiras, atitudes, comportamentos que desqualificam a mulher ou as impeçam de exercer seus direitos, fazem com que os homens, mesmo os gays, tenham vantagens sociais em relação às mulheres.

Referência:

SARAIVA, Luiz Alex Silva; SANTOS, Leonardo Tadeu dos; PEREIRA, Jefferson Rodrigues. Heteronormatividade, Masculinidade e Preconceito em Aplicativos de Celular: O Caso do Grindr em uma Cidade Brasileira. BBR. Brazilian Business Review, v. 17, n. 1, p. 114-131, 2020.

 

Mito 8. Todos os homens gays têm pênis.

Resposta: “Homens cis” são pessoas que nasceram com pênis/saco escrotal e, por isso, foram denominados socialmente como homens no nascimento e se identificam como homens. “Homens trans”, por outro lado, são pessoas que se identificam como homens em relação ao gênero, mas que nasceram com vulva/vagina e, por isso, foram denominados mulheres ao nascerem. Homens trans podem ter vulva/vagina e não desejar, necessariamente, realizar cirurgias. Geralmente o termo “gay” costuma ser utilizado para se referir a “homens cis” homossexuais (que têm atração por outros homens), entretanto, “homens trans” também podem ter atração homossexual por outros homens. 

Referência:

LOPES JUNIOR, Ademir, AMORIM Ana Paula Andreotti; FERRON, Mariana Maleronka. Sexualidade e Diversidade. In: GUSSO. Gustavo; LOPES José Mauro Ceratti; DIAS. Porto Alegre. Artmed, 2019.