Como o luto interfere na saúde das pessoas

25 de junho de 2025

As pessoas reagem de diversas formas às perdas. O luto manifesta-se por meio de diferentes reações, algumas mais perceptíveis e outras mais sutis. Quando esse processo começa a afetar a saúde física e mental de quem o vivencia, é importante monitorar sentimentos e comportamentos que ultrapassem o esperado, a fim de evitar danos maiores. 

A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) traz orientações para quem está passando por esse processo, com o objetivo de promover mais qualidade de vida e reduzir o sofrimento decorrente da perda, e também para os profissionais que cuidam dessas pessoas.

“O luto é um processo de reação e adaptação a uma perda. É a forma pela qual reconhecemos e enfrentamos a nova realidade que se impõe após a ausência de alguém. É o nosso modo de encarar que a dor é imensa, e que ela nos convida a refletir e repensar nossa vida”, explica o médico de família e comunidade e também paliativista Arthur Fernandes, diretor do Departamento de Comunicação da SBMFC.

Considerado normal, o luto envolve uma série de sentimentos e comportamentos esperados. Entre as manifestações emocionais estão: apatia, raiva, tristeza, culpa, ansiedade, choque e cansaço. Também há manifestações sociais, como isolamento, alterações no sono ou apetite, evitação de lembranças ou de locais e objetos relacionados à pessoa falecida, falar repetidamente sobre a perda, desânimo, dificuldade para amar e redução das atividades diárias.

O processo de luto também pode provocar manifestações físicas, como: sensação de vazio no estômago, nó na garganta, boca seca, maior sensibilidade a ruídos, sensação de irrealidade, pouca energia, fraqueza muscular, dificuldade para respirar, dores no peito e palpitações.

“Todos esses sintomas são considerados normais, independentemente do tempo de convivência com a pessoa falecida ou da intensidade do vínculo. Familiares próximos ou distantes podem apresentá-los, assim como cuidadores que acompanharam a pessoa durante uma doença. E não importa como ocorreu a morte, seja ela esperada, devido ao avanço da idade ou a um grave problema de saúde, ou repentina, como em acidentes”, detalha Fernandes.

Quanto à duração do luto, não há um tempo definido para que a dor cesse. O luto dura o tempo que precisa durar. Algumas pessoas vivenciam lutos mais intensos, que as “tiram do eixo” e dificultam a retomada da própria vida. Reações mais intensas, frequentes e duradouras devem chamar a atenção das pessoas próximas, para que se busque apoio profissional junto a uma equipe de saúde.

Diversas estratégias podem ajudar uma pessoa enlutada a enfrentar os dias seguintes à perda e, aos poucos, reencontrar sua conexão com a vida. Essas orientações não são “receitas prontas” e devem ser individualizadas ou adaptadas à realidade de cada um. Entre elas, destacam-se: rituais de despedida, prática de atividades físicas, vivências espirituais e apoio familiar e social.

“É recomendado que familiares e pessoas próximas monitorem o comportamento e os sintomas da pessoa enlutada, buscando apoio médico e psicológico quando necessário. Viver o luto é normal e importante, desde que não haja uma dificuldade excessiva para seguir vivendo após a perda”, conclui o especialista.

Sobre a Medicina de Família e Comunidade 

A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade médica, assim como a cardiologia, neurologia e ginecologia, entre outras. O médico/a de família e comunidade (MFC) é o especialista em cuidar das pessoas, da família e da comunidade no contexto da atenção primária à saúde. Ele acompanha as pessoas ao longo da vida, independentemente do gênero, idade ou possível doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde. O médico/a de família e comunidade é um clínico e comunicador habilidoso, pois utiliza abordagem centrada na pessoa e é capaz de resolver pelo menos 90% dos problemas de saúde, manejar sintomas inespecíficos e realizar ações preventivas. É um coordenador do cuidado, trabalha em equipe e em rede, advoga em prol da saúde dos seus pacientes e da comunidade.