Especialistas que atuam nas Unidades Básicas de Saúde de Florianópolis indicam a volta à escola para melhora da qualidade de vida de pacientes
A volta aos estudos passou a fazer parte da prescrição médica como parte de tratamento de saúde nas Unidades Básicas de Saúde de Florianópolis. Um grupo de médicos e médicas de família e comunidade passou a indicar aos pacientes a conclusão dos estudos como parte do tratamento médico a partir do EJA (Educação de Jovens e Adultos), programa oferecido pelos governos estaduais para aqueles que não tiveram oportunidade, concluírem os ensinos fundamental e médio.
Muito além de medicamentos e exames, as consultas realizadas na Estratégia Saúde da Família, que organiza a Atenção Primária à Saúde no SUS, coloca a saúde no centro das necessidades da pessoa, da família e do território, e com médico(as) de família e comunidade nas suas equipes, ampliam o cuidado para além do físico, abordando também a saúde mental e o contexto social.
“Quando transformarmos um local onde as pessoas buscam saúde, em um espaço promotor de educação que dá condições de uma vida com mais autonomia, para simples ações que vão desde ler o ônibus e as receitas prescritas pelos médicos, um livro, um bilhete escrito por um familiar querido, até a ida a um teatro, promovemos um maior acesso à cultura e cidadania, que estão diretamente relacionadas aos determinantes de saúde não só de um único indivíduo, mas de uma comunidade”, comenta Mayara Floss, médica de família e comunidade, membra da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Mayara começou o movimento, a partir de pesquisa sobre quais os turnos e disponibilidade de inscrições e vagas para o EJA na cidade. “A partir dos primeiros encaminhamentos, alguns professores entraram em contato para promover uma aproximação que deu tão certo que hoje, temos um protocolo de encaminhamento municipal, o que cria uma rede de cuidado muito forte. Atualmente, temos pacientes já formados que nos contam nas consultas como foi importante ter concluído os estudos e alguns ainda em fase de aprendizado”, relata.
Os benefícios da volta aos estudos para a saúde são diversos:
- Melhora a depressão e a ansiedade;
- Desenvolve a autonomia ao aprender a ler as receitas médicas;
- Aumento na expectativa de vida;
- Redução e controle de doenças crônicas.
“A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade médica reconhecida, com formação por residência ou titulação por meio de prova aplicada pela SBMFC. Somos especialistas que avaliam e acompanham a pessoa de forma integral, analisando a saúde, de acordo com as condições físicas, sociais, familiares e de acordo com os territórios que a pessoa vive e transita. Por isso que, muito mais que prescrever medicamentos para tratar alguma demanda de saúde, a Medicina de Família e Comunidade, por meio de habilidades, como a comunicação clínica e a escuta, acolhe as demandas dos pacientes e faz o remanejamento, de acordo com os recursos disponíveis, como o EJA”, explica o médico de família e comunidade, Fabiano Guimarães, presidente da SBMFC.
Sobre a Medicina de Família e Comunidade
A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade médica, assim como a cardiologia, neurologia e ginecologia, entre outras. O médico/a de família e comunidade (MFC) é o especialista em cuidar das pessoas, da família e da comunidade no contexto da atenção primária à saúde. Ele acompanha as pessoas ao longo da vida, independentemente do gênero, idade ou possível doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde. O médico/a de família e comunidade é um clínico e comunicador habilidoso, pois utiliza abordagem centrada na pessoa e é capaz de resolver pelo menos 90% dos problemas de saúde, manejar sintomas inespecíficos e realizar ações preventivas. É um coordenador do cuidado, trabalha em equipe e em rede, advoga em prol da saúde dos seus pacientes e da comunidade.