No Dia da Mulher Negra Latina Americana Caribenha, datado em 25 de julho, o Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra da SBMFC promove e convida à reflexão sobre a importância da centralidade à temática racial com recorte de gênero, especialmente para profissionais que atuam no SUS e médico(a)s de família e comunidade.
Neste conteúdo, você tem acesso a diversas produções que irão apoiar o seu dia a dia, no atendimento de pacientes com diversas experiências, promovendo escuta e acolhimento, a partir de embasamento de diversas teses de MFCs que estudam as especificidades de mulheres negras que buscam no SUS apoio para demandas de saúde física e também mental.
As produções são resultado de teses de conclusão de curso de residência em MFC, mestrados, doutorados, de autoria de médicas de família e comunidade, membras do GT e profissionais da APS. Todas as obras apresentadas estão disponíveis abaixo para leitura, apreciação e estudos para que como todos nós, profissionais atuantes na MFC, possamos aprimorar a nossa escuta e acolhimento garantindo a oferta e melhoria da saúde dessas mulheres tão negligenciadas pela sociedade:
“O racismo (re)produz a negação de direitos, do não acesso aos serviços de saúde, da produção da morte e da não efetivação do bem viver para corpos negros, e isso se dá pela promoção de uma dimensão tenebrosa, permeada por sofrimento, violência e racismo estrutural em suas diversas expressões nas vivências de profissionais e usuários negros na APS”
SILVA, LB et al. “Mesmo que a gente seja a mão que cuida”: médicas negras e racismo estrutural no contexto da atenção primária à saúde. Ciência e Saúde Coletiva, 2024. Acesso <Mesmo que a gente seja a mão que cuida>
“A juventude negra é a parcela da população mais vitimada por morte violenta no Brasil, e suas mães são uma parcela das vítimas “secundárias”… A dor da perda de seus filhos assassinados é muitas vezes desrespeitada e não é socialmente reconhecida, pois a morte por homicídio é rechaçada pela sociedade, como morte que não é digna de luto, por não se enquadrar nas regras sociais desse processo”.
VEIGA, Mariana Brêttas. Quem vai catar os cacos dos corações? Escrevivências sobre as mães que ficam, vivem ou sobrevivem com a dor da perda de filhos pela violência armada. Rio de Janeiro, 2022. Acesso <https://arca.fiocruz.br/items/83eb36b1-e810-409a-8c67-7bc34779756e>
“São recorrentes a sexualização e a adultização das meninas negras como demonstram Epstein, Blake e González (2017), além da vida nas ruas e da naturalização de gravidezes indesejadas na adolescência. As crianças negras estão inseridas de tal modo no funcionamento do racismo que é preciso falar sobre infâncias negras no plural e entender os desdobramentos para o seu desenvolvimento nos cenários em que vivem”.
JATOBÁ, Larissa Rodrigues. Saúde da criança negra e cuidado antirracista na Atenção Primária à Saúde. Rio de Janeiro, 2023. Acesso <Saúde da criança negra e cuidado antirracista na Atenção Primária à Saúde>.
“Em uma pesquisa realizada em 2012, que compara o atendimento ao pré-natal de mulheres brancas e negras, notou-se que entre as mulheres negras, 67,4% completaram sete consultas de pré-natal, em comparação com 71,6% das mulheres brancas. As mulheres negras grávidas morrem mais de causas maternas, afetadas pela hipertensão própria da gravidez, que as brancas”.
BANDOLI, Lorrane Trindade. A abordagem da saúde sexual e afetiva de mulheres negras pelo médico de família e comunidade: um relato de experiência. Rio de Janeiro, 2023. Acesse <A abordagem da saúde sexual e afetiva de mulheres negras>
“Lésbicas negras quando em contato com o sistema profissional de saúde, deparam-se com o racismo institucional, com a lesbofobia institucional e com a heterossexualidade compulsória que nos violenta e repele dos espaços formais de cuidado. Mais do que dificuldade em entender o setor profissional de saúde como possibilidade de busca de cuidado, lésbicas negras participantes dessa pesquisa revelam medo de sofrer violências e relatam situações em que foram profundamente violadas pela instituição de saúde.”
BORRET, Rita Helena do Espírito Santo. As Casas da Diferença como lócus de produção de cuidado em saúde: mulheres negras e lésbicas por um paradigma de humanidade. Rio de Janeiro, 2024. Acesso <https://arca.fiocruz.br/items/5bb9e208-c15b-4b1e-a931-d181ab32e501>
“”São recorrentes a sexualização e a adultização das meninas negras, além da vida nas ruas e da naturalização de gravidezes indesejadas na adolescência. As crianças negras estão inseridas de tal modo no funcionamento do racismo que é preciso falar sobre infâncias negras no plural e entender os desdobramentos para o seu desenvolvimento nos cenários em que vivem”.”.
QUINTINO, Julyana Maria Lopes. Violências de gênero, violações de direitos reprodutivos de mulheres gestantes em situação de rua e que usam drogas em Salvador. Teixeira de Freitas, BA – 2019. Acesso <https://profsaude-abrasco.fiocruz.br/sites/default/files/autorizado_julyana_capitulo_livro_versao_final_sigaa_17.07.19.pdf>
“Falar sobre método clínico centrado na pessoa, uma das ferramentas mais conhecidas e ensinadas pelas médicas de família e comunidade, não foi uma escolha aleatória. Profere-se tanto sobre centrar o cuidado na pessoa e, ao mesmo tempo, pouco ou nada se vê sobre centrar o cuidado nas narrativas das mulheres negras que atendemos todos os dias. Se não conseguimos centrar o cuidado de uma mulher negra e, em especial, periférica, levando em consideração suas narrativas, trajetórias, sofrimentos, histórias e adoecimentos, como podemos dizer que prestamos um cuidado integral, equânime e continuado dessas mulheres, como nos propõem os princípios da Medicina de Família e Comunidade? Como podemos dizer que aplicamos o método clínico centrado na pessoa se não conseguimos acessar os sentimentos dessas mulheres negras periféricas a respeito de seus problemas, suas ideias sobre o que está errado, os efeitos da doença no seu funcionamento, suas expectativas para este encontro clínico? Por que continuamos ensinando e aprendendo um método clínico falho em abordar a narrativa das mulheres negras e periféricas que atendemos diariamente?”
BARREIRA, Gabriela Pereira. AS NARRATIVAS DAS MULHERES NEGRAS QUE O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA NÃO (DÁ) CONTA: um ensaio teórico sobre o cuidado em saúde de mulheres negras. Rio de Janeiro, 2021. Acesso em <NARRATIVAS DAS MULHERES NEGRAS MCCP>