Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis, romancista, poetisa e professora de primeiras letras maranhense é juntamente com o poeta, jornalista e advogado Luiz Gama fundadora da literatura afro-brasileira. Com a autoria do romance Úrsula, publicado originalmente em 1859, pela Tipografia do Progresso de São Luís do Maranhão, Maria Firmina surge como precursora do romance abolicionista no Brasil). Mais do que precursora, foi a representante maior de um gênero quase desconhecido no país, o da literatura abolicionista, que expunha os horrores da escravidão sem transferir para as costas dos escravos e escravas todos os males das sociedades escravistas.

“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa” (Úrsula, 1859)

Nascida na ilha de São Luís, no Maranhão, em 1822, Maria Firmina dos Reis era filha de pai negro e mãe branca. Tornou-se órfa aos 5 anos de idade, passando a ser criada por uma tia materna. Maria teve acesso a boa educação e literatura desde cedo. Prima do popular gramático Sotero dos Reis, frequentou escolas conceituadas da região, fato raro para uma mulher e negra nascida no século XIX, ainda durante o regime escravocrata.
Com 25 anos, formada em pedagogia, prestou concurso, foi aprovada e, em 1847 se tornou a primeira professora negra a ocupar a Cadeira de Instrução Primária de Guimarães, no Maranhão.

Como educadora, estava em posição que, até então, jamais seriam imaginadas para uma mulher negra e por isso, Maria sofreu com os preconceitos existentes. No entanto, a professora não se deixou abater e, além de se destacar pela qualidade no ensino, fundou a primeira escola mista – para meninos e meninas – totalmente gratuita do Estado do Maranhão.
A escola mista permaneceu aberta por apenas três anos. Apesar disso, com a conquista de respeito no meio educacional e reconhecida por grandes intelectuais, Maria Firmina conseguiu o tão esperado espaço para fazer sua primeira publicação literária.

“Úrsula” ganhou espaço no mercado de literatura em 1859 e apresenta a visão de uma escrava diante da situação da população negra no século XIX. Tal obra foi um marco na história do país, isso porque deu início ao movimento literário afro-brasileiro, antes nunca explorado, e foi um ponta pé para promover a abolição da escravatura no Brasil.

O sucesso deste e de seu segundo livro “Gupeva” era inédito, já que a maior parte dos escritores nacionais reconhecidos eram homens, brancos e narravam a vida da parcela mais rica e escravocrata da população. Quando Maria Firmina dos Reis apresentou os escravos como figuras humanizadas, sua obra apresentou uma ruptura importante.
Maria Firmina publicou poesia, ensaios, histórias e quebra-cabeças em jornais e revistas locais, além de compor canções abolicionistas. A literatura era seu instrumento de denúncia dos males escravidão, contraditória a fé cristã professada pela sociedade, que não se constrangia em lucrar com a venda de seres humanos.

Após suas duas maiores obras publicadas, escreveu “Cantos à Beira Mar”, uma reunião de poesias com forte inquietação de subjetividade feminina e negra diante da realidade oitocentista marcada pelos ditames do patriarcado escravocrata.
Em 1887, publicou o conto A Escrava, no qual descreve uma participante ativa da causa abolicionista. Com grande apelo a favor da abolição da escravatura, a obra conta a história de uma mulher de classe alta que teve participação ativa no movimento abolicionista. No auge da luta contra a escravidão, a produção ganhou destaque em um importante canal de comunicação da época, a Revista Maranhense.

Depois ter seus livros de romance publicados, Maria Firmina se deparou com um cenário nunca visto antes. Mulher negra, nordestina, solteira, reconhecida por toda a academia literária e autossuficiente. Nos anos seguintes, contribuiu com a publicação de poesias, crônicas, contos e ficção em jornal e revistas populares da época, também contribuiu ativamente para a composição do hino da abolição da escravatura.

Depois de todos os seus feitos e representatividade diante da luta da população negra e da luta das mulheres para uma sociedade mais igualitária, Maria Firmina dos Reis faleceu em meados de 1917, aos 95 anos, com muitos documentos de arquivo pessoal – como produções e retratos – perdidos.

Em 1960, um de seus livros foi encontrado em um sebo e, é a partir de então que, essa mulher negra, dona de vida e obra essenciais, volta a figurar nos registros da história do país e da literatura nacional.

Link para leitura breve biografia:
1-https://www.geledes.org.br/quem-foi-maria-firmina-dos-reis-considerada-primeira-romancista-brasileira/
2-https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/11/politica/1570793304_499201.html
Artigos e trabalhos sobre Maria Firmina e sua obra:
3- MACHADO, MARIA HELENA PEREIRA TOLEDO. Maria Firmina dos Reis: escrita íntima na construção do si mesmo. Estud. av.,  São Paulo ,  v. 33, n. 96, p. 91-108,  ago.  2019 .   Disponível em:  http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142019000200091&lng=pt&nrm=iso.
4- da Silva, Régia Agostinho. Maria Firmina dos Reis e sua escrita antiescravista. Revista Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (RICS).  São Luís – Vol. 3 – Número 2. jul./dez. 2017
5-Santos, CS. A escritora Maria Firmina dos Reis : história e memória de uma professora no Maranhão do século XIX. Campinas, SP, 2016. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Disponivel em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/305305/1/Santos_CarlaSampaiodos_M.pdf