Médico de Família e Comunidade brasileiro participa do Wonca África

11 de junho de 2019

A edição de 2019 do Wonca África é a primeira realizada na área oriental do continente. A conferência aconteceu entre os dias 6 e 8 de junho, em Kampala, Uganda. Entre os 50 participantes não Africanos está Adelson Guaraci Jantsch, Médico de Família e Comunidade brasileiro, que ministrou a oficina “Being a resident in Family Medicine in low and middle countries“.

“Minha missão era fazer uma oficina com os MFCs dos países lusófonos junto com o Centro Besrour, grupo Canadense dedicado a fomentar o crescimento da especialidade mundo afora. Descobri que Moçambique é o único destes países que tem residência na especialidade. Ainda que bastante incipiente, já formaram residentes e continuam a receber novos alunos todos os anos. Por outro lado, o presidente do colégio de MFC dos países do Oeste africano me contou que em Guiné Bissau são apenas três médicos em todo o país com algum tipo de especialização: um cardiologista, um nefrologista e um dentista”. 

Durante a conferência, Adelson Jantsch notou outras disparidades. “Algumas diferenças em relação ao nosso contexto brasileiro me impressionaram muito, como a desigualdade na proporção entre homens e mulheres na especialidade. No Brasil, por exemplo, as mulheres representam mais da metade do total de médicos e no programa de residência do Rio de Janeiro, todas as turmas tinham 60% de mulheres. Nas atividades do congresso, poucas mulheres estavam presentes e uma das sessões mais interessantes foi dedicada ao movimento de mulheres médicas de família buscando incentivar novas médicas a abraçar a carreira”.

Apesar do tamanho bastante reduzido de participantes e da evidente necessidade de investimentos na Atenção Primária nos países africanos, a vibração e o desejo de promover a especialidade era visível e contagiante. “Inspirador ver colegas de países tão distintos dentro de um mesmo continente apresentando seus trabalhos e compartilhando suas conquistas e dilemas, como o colega Sudanês que, na mesma semana em que conflitos entre manifestantes e o exército levaram a morte de mais de 100 civis, apresentou seu trabalho de doutorado sobre os resultados do treinamento da primeira turma de médicos de família formados no país. Apesar das dificuldades que o mundo nos impõe continuamos perseguindo o sonho de construir uma APS universal, forte e abrangente”, completa.