Vivemos tempos desafiadores!
Além das habituais dificuldades socioassistenciais e político-estruturais, enfrentamos também os impactos crescentes das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que presenciamos a intensificação de guerras e conflitos armados em diversas regiões do planeta, afetando profundamente a saúde e a dignidade de milhões de pessoas. Observa-se um aumento expressivo nos investimentos destinados a ações militares — US$ 2,443 trilhões de dólares, um recorde histórico (SIPRI) — recursos que poderiam ser aplicados no financiamento de adaptação climática e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, voltados à promoção da paz, proteção ao ambiente, da equidade e das justiças social e climática até 2030.
Essa escolha revela uma lógica já conhecida: a da destruição, que rejeita o diálogo e privilegia a violência e a luta pelo poder.
O recente bombardeio dos Estados Unidos ao Irã, os ataques contínuos de Israel à Palestina, a prolongada guerra da Rússia contra a Ucrânia, o conflito devastador no Sudão e a crise humanitária no Iêmen são expressões de conflitos com raízes múltiplas e complexas: a crise do sistema econômico vigente, disputas territoriais e por recursos naturais, questões culturais e religiosas, heranças coloniais e interesses econômicos e estratégicos globais.
O resultado, no entanto, é invariavelmente o mesmo: vidas perdidas, comunidades e ecossistemas destruídos, sistemas de saúde colapsados, sofrimento humano e não humano incalculável.
Estima-se que mais de 200 milhões de pessoas estejam atualmente em condição de refugiadas, forçadas a deixar suas casas devido a guerras, perseguições e aos crescentes transtornos climáticos que afetam diversos territórios. (UNHCR, 2024).
Somente o conflito na Ucrânia já provocou o deslocamento de mais de 10 milhões de pessoas. Na Palestina, milhares de civis foram mortos, e a destruição em Gaza levou o sistema de saúde ao colapso (UN OCHA, 2024). No Sudão, mais de 8 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas em menos de dois anos (UNHCR, 2024).
O Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock), um alerta científico global, simboliza o quão próxima a humanidade está de uma catástrofe planetária autoinfligida. Desde 2023, marca 90 segundos para a meia-noite, sendo este o ponto simbólico do fim da civilização.
Entre os principais riscos apontados estão: conflitos e guerra nuclear, mudanças climáticas, uso desenfreado de tecnologias de inteligência artificial, desinformação e a instabilidade política.
A Organização Mundial da Saúde nos lembra:
“A paz é o mais importante determinante estrutural da saúde.” (WHO, 2022)
A WONCA, por sua vez, nos conclama a colocar a equidade, integralidade, dignidade e a justiça no centro do nosso cuidado. Assim, nós, médicas e médicos de família e comunidade, somos mais do que profissionais de saúde: somos potenciais agentes de transformação, guardiões da vida e defensores das pessoas, comunidades e ambientes onde atuamos. Cabe a nós também promover a cultura de paz, denunciar as iniquidades geradas pela guerra e construir redes de acolhimento e solidariedade com quem sofre os efeitos da violência em suas diversas esferas.
Que nossa atuação, em cada território, seja uma expressão de resistência às lógicas de destruição. Que nossa voz, ações e cuidado sejam um levante coletivo em defesa da vida, da dignidade, universalidade, fraternidade e da esperança para todo o planeta.
É preciso nos posicionarmos contra a guerra, contra o genocídio do povo Palestino. Em defesa dos povos e seres vulnerabilizados do mundo.
Vida ao povo palestino!
Viva a soberania dos povos!
Em busca da paz,
GT de Saúde Planetária SBMFC
Referências
1. World Health Organization. Health as a bridge for peace in the 21st century [Internet]. Geneva: WHO; 2022 [cited 2025 Jun 23]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/health-as-a-bridge-for-peace
2. World Organization of Family Doctors (WONCA). WONCA Statement on Peace and Health [Internet]. 2018 [cited 2025 Jun 23]. Available from: https://www.globalfamilydoctor.com
3. United Nations High Commissioner for Refugees. Global Trends: Forced Displacement 2024 [Internet]. UNHCR; 2024 [cited 2025 Jun 23]. Available from: https://www.unhcr.org
4. UN Office for the Coordination of Humanitarian Affairs. Humanitarian Needs Overviews [Internet]. 2024 [cited 2025 Jun 23]. Available from: https://www.unocha.org