Hanseníase: competência essencial do MFC

28 de janeiro de 2019

A Hanseníase é uma doença infecto-contagiosa causada por uma micobactéria, o Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, que infecta apenas os seres humanos e é transmitida entre as pessoas, pelo contato direto com pessoas doentes, em particular com as secreções respiratórias. Essa micobactéria desenvolve-se predominantemente nas células da pele e dos nervos periféricos, encontrando-se aí a explicação para as suas manifestações clínicas.
 
A humanidade convive com a hanseníase há milhares de anos, mas apenas em meados do século passado desenvolveu-se tratamento capaz de curar a doença. Essa longa história somada ao caráter deformante do estágio avançado de certas formas da doença e a outros fatores, acabam levando a um forte estigma sociocultural quanto à doença e ao seu diagnóstico. Esse estigma é um dos fatores que dificulta o diagnóstico e o tratamento da hanseníase no Brasil e no mundo.
 
Uma das características peculiares do bacilo de Hansen é seu lento metabolismo, o que leva a períodos de incubação da doença de vários anos, a uma evolução clínica bastante insidiosa e a necessidade de tratamentos prolongados, bem como ao risco da recidivas da doença. Além disso, a maneira pela qual um indivíduo vai reagir ao contato com o bacilo de Hansen depende muito do padrão de resposta de seu sistema imunológico. A maior parte das pessoas não irão desenvolver a doença após o contato. Entretanto, uma pequena parcela da população exposta ira desenvolver uma das formas da doença.
 
O Brasil, juntamente com a Índia, são os países do mundo com os maiores índices da doença. O Brasil vem conseguindo reduzir de forma bem significativa o número de casos de hanseníase nas ultimas décadas, ainda assim a doença ainda se constitui em um importante problema de saúde pública. Coincidência ou não, a redução do número de casos de hanseníase ocorre no mesmo período em que a Atenção Primária à Saúde, em particular pela Estratégia de Saúde da Família, vem se consolidando como elemento central na organização do nosso sistema de saúde. 
 
Fato é que, por se tratar de uma doença que ainda é prevalente no país, seu diagnóstico e tratamento devem ser competências de todos os médicos. Na Medicina de Família e Comunidade, as competências necessárias para o manejo da hanseníase são ainda mais fundamentais. Como não poderia deixar de ser, o manejo da hanseníase consta como uma das competências essenciais no Currículo Baseado em Competências desenvolvido pela SBMFC.
 
A manifestação cardinal da doença são as lesões de pele acompanhadas por alterações de sensibilidade. Todas as lesões cutâneas causadas pela hanseníase são acompanhadas de alterações de sensibilidade. É para isso que tanto a população como os profissionais de saúde devem se atentar a fim de obterem um diagnóstico precoce e iniciarem o tratamento em tempo hábil para se evitar as sequelas da doença.
 
Já desde a década de 1980 a combinação de pelo menos duas medicações com ação contra a micobactéria (poliquimioterapia) é considerada a forma de tratamento recomendada. Os esquemas terapêuticos atuais são amplamente distribuídos pelo Ministério da Saúde e devem estar acessíveis na Atenção Primária à Saúde.
 
Por Daniel Knupp, presidente da SBMFC gestão 2018-2020