Nota de esclarecimento da APRMFC sobre matéria publicada no jornal Gazeta do Povo

5 de junho de 2019

A respeito da matéria divulgada pelo jornal Gazeta do Povo, neste último dia 02 de junho de 2019, intitulada “Emergência fechada e hospitais lotados. Entenda a crise da pediatria em Curitiba”, vemo-nos compelidos a esclarecer alguns equívocos divergentes das evidências mais atuais com relação aos atendimentos em atenção primária.

Foi veiculado na matéria que o fato de termos presentes médicos generalistas nos atendimentos de atenção primária nas unidades de saúde seria o motivo pelo qual os pronto-atendimentos estão mais lotados. Isto não está respaldado pela literatura e é uma inferência do profissional entrevistado.

Está amplamente estabelecido na literatura mundial que investimento consistente em atenção primária à saúde traz benefícios à população, com melhoria em mortalidade infantil, satisfação dos usuários, redução de mortalidade geral e em vários tipos de internamento. A Estratégia de Saúde da Família está consolidada como a forma mais efetiva de organização da atenção primária já realizada no Brasil e é um modelo elogiado mundo afora. Dados da realidade em Curitiba apontaram a ESF como sendo superior ao modelo tradicional dicotomizado, em que o pediatra ocupa protagonismo do cuidado à criança, por trazer melhor acesso, acompanhamento mais longitudinal e coordenação do cuidado muito mais expressiva (até 38% de diferença).

É incorreta ainda a informação que a cidade de Curitiba disponha de número suficiente de médicos (pediatras ou generalistas) na atenção primária. A Secretaria de Saúde de Curitiba, nas várias administrações que já se passaram e na atual, tem investido em APS aquém do necessário e a população fatalmente arca com estas consequências (o que não é muito diferente no restante do estado e do país). Faltas de profissionais e insumos na grande maioria das Unidades de Saúde são uma realidade constante. Mesmo quando o quadro de profissionais está completo, muitas vezes não são suficientes para atender a enorme quantidade de pacientes que estas unidades têm sob sua responsabilidade, já que frequentemente ultrapassam o máximo regulamentado para cada equipe.

Rafael Mendonça Rey dos Santos

Presidente da Associação Paranaense de Medicina de Família e Comunidade