O papel da Medicina de Família e Comunidade no combate à dengue em Minas Gerais

24 de março de 2016

A dengue é um dos maiores flagelos da população brasileira já há algum tempo. Em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES), mais de 200 mil pessoas já foram infectadas por dengue. Para contê-la e tratar os pacientes, o trabalho do médico de família e comunidade, seja pela atuação conjunta na Estratégia Saúde da Família, seja na Atenção Suplementar, passa pelo conhecimento robusto da doença para reconhecimento precoce e tratamento adequado aos casos suspeitos ou confirmados, bem como auxiliar na prevenção à mesma, ao promover uma Educação em Saúde efetiva à população que atende, empoderando-os como multiplicadores do conhecimento e efetuadores de medidas preventivas junto à comunidade em que vivem, por exemplo.

“Apesar de alguns avanços nas pesquisas que buscam o desenvolvimento de uma vacina contra doença, o maior desafio continua sendo o combate ao seu vetor, o Aedes aegipty. A maioria dos casos graves da dengue que irão necessitar de cuidados intensivos ou hospitalares pode ser evitada principalmente através da hidratação adequada e medidas sintomáticas iniciadas em tempo hábil, já na Atenção Primária. Este é, portanto, o local mais adequado e melhor capacitado para o qual as pessoas se dirijam quando estão com suspeita da doença, ao invés de procurarem primeiro o pronto-atendimento hospitalar’’, explica Guilherme Bruno Lima Junior, presidente da Associação Mineira de Medicina de Família e Comunidade (AMMFC).


Para o tratamento efetivo, é necessária uma identificação de pessoas que tenham risco aumentado para uma evolução desfavorável da doença, tais como as gestantes, crianças menores de dois anos e idosos com mais de 65 anos, portadores de doenças crônicas que podem se descompensar como hipertensão, diabetes e asma, por exemplo, e pessoas que usam
rotineiramente medicações que atuam no sistema imunológico e/ou na coagulação sanguínea (anticoagulantes, imunossupressores e anti-inflamatórios).

“Após essas medidas, precisa-se pesquisar sinais e sintomas de alarme (hipotensão postural, dor abdominal intensa, vômitos persistentes, sangramentos de mucosas) e de choque hipovolêmico (pressão sanguínea muito baixa que impede a circulação efetiva no organismo): respiração muito rápida, batimentos cardíacos muito elevados, pulso rápido e fino”, ressalta Guilherme Bruno, que também é membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).


Tais avaliações, junto com outros testes clínicos, como a prova do laço e alguns exames laboratoriais permitem classificar cada caso suspeito de dengue em um grupo, de acordo com sua gravidade (A, B, C e D). Além das medicações sintomáticas (analgésicos e antitérmicos como o paracetamol e a dipirona, medicamentos para náusea e vômitos, e antialérgicos para coceiras, contraindicados os anti-inflamatórios e aspirina), o cerne do tratamento da dengue é a hidratação – oral nos casos menos graves e venosa naqueles mais graves. O volume de líquidos e a velocidade de sua administração são baseados na classificação da gravidade do caso conforme o grupo em que a pessoa seja enquadrada. A hidratação, portanto, é a chave para um tratamento efetivo na absoluta maioria dos casos de dengue.