Quais pessoas são elegíveis aos cuidados paliativos?

10 de fevereiro de 2020

*Por Erika Aguiar Lara Pereira, médica de família e comunidade, coordenadora do Grupo de Trabalho de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade 

Cuidado Paliativo é um cuidado holístico ativo voltado ao indivíduo com sério sofrimento atrelado a uma condição de saúde grave, em qualquer fase do ciclo de vida, especialmente próximo na fase final de vida. Ele visa melhor qualidade de vida para o paciente, seus familiares e cuidadores. Mas quais pacientes se enquadram nesse tipo de cuidado e quando iniciá-lo?

É muito mais que a melhoria da qualidade de vida, mas a prevenção de episódios graves e alívio do sofrimento. Infelizmente, muitos pacientes são direcionados a esse tipo de cuidado quando já estão em fase terminal. Mas o indicado, para melhores resultados e ações efetivas, é que seja implementado a partir do diagnóstico de uma doença considerada elegível como pessoas com câncer em estágio grave, problemas cardíacos, pulmão, vítimas de acidentes de trânsito e doméstico que tem pré-disposição a falências de órgãos, demências e fragilidades.

O objetivo principal é evitar o agravamento de problemas físicos, psicológicos e até espirituais, com estrutura adequada para atender as necessidades de cada fase da enfermidade. E a atenção não foca apenas no paciente, mas também aos cuidadores e familiares. A rede de apoio e cuidado dessa pessoa merece cuidados e atenção. Ver um ente querido e acompanhar a trajetória de tratamento, pode impactar diretamente a saúde mental e até física, ocasionando sofrimento. Muitas vezes, a doença pode provocar mudanças profundas na dinâmica familiar, afetando a todos que fazem parte daquele universo. Em consequência, muitas famílias se tornam vulneráveis de várias formas, desde social até econômica. 

 

Cuidados Paliativos na Medicina de Família e Comunidade

A Associação Médica Brasileira (AMB) permite exame de suficiência para obtenção do Certificado de Área de Atuação em Medicina Paliativa os médicos vinculados a algumas Sociedades de especialidades médicas, entre elas, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). 
 
A Abordagem Paliativa é um dever do médico, independentemente de sua especialidade, como descrito no Código de Ética Médica, Capítulo V – Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.
 
O médico de família e comunidade acompanha toda a trajetória do paciente, desde o diagnóstico, protocolo de tratamento, aceitação e reação dos medicamentos, organização dos exames e um olhar multicêntrico sobre o impacto da doença na vida não só da pessoa, mas da família e demais envolvidos no cuidado. Isso pode ser no consultório, hospitais e também nas visitas domiciliares. 

Para encerrar, é importante não associarmos os cuidados paliativos com o fim da vida. Há muitos casos que pessoas que se encaixam nesse formato de cuidado e vivem por anos. Assim, como muitos outros, infelizmente, o recebem apenas nos últimos dias de vida. Mas promover conforto e atenção e reduzir o sofrimento.