SBMFC entrevista Giuliano Dimarzio – Vamos falar sobre ciência na Medicina de Família?

8 de fevereiro de 2019

Giuliano Dimarzio é médico de família e comunidade, diretor científico da SBMFC, Coordenador das Disciplinas de Atenção Primária à Saúde da Graduação em Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic e Supervisor do PRM de MFC da São Leopoldo Mandic. Mestre em Saúde Coletiva, área de Epidemiologia (FCM /Unicamp), Doutorando em Ensino em Saúde,  Depto Clínica Médica (FCM/Unicamp).

SBMFC: Qual o papel da Diretoria Científica da SBMFC?

Giuliano: A Diretoria Científica (DC) é pautada  no artigo 53 do Estatuto vigente da Sociedade, as atribuições da diretoria científica são:

(a) Promover o desenvolvimento científico da especialidade e o desenvolvimento profissional contínuo em Medicina de Família e Comunidade;

(b) Tratar de assuntos científicos de interesse para a SBMFC;

(c) Promover o intercâmbio e o relacionamento da SBMFC com outros organismos de caráter científico;

(d) Representar a Diretoria, por impedimento ou solicitação da Presidência, ou solicitar à Diretoria tal representação, nas comissões organizadoras dos Congressos Brasileiros e de outros eventos científicos em que a SBMFC participar;

  1. e) Estabelecer as diretrizes gerais para as publicações e traduções da SBMFC e promover o desenvolvimento, qualificação e difusão das mesmas;

(f) Sugerir, para apreciação e aprovação da diretoria, o nome do editor da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e de outras funções sugeridas e/ou a serem definidas para execução das tarefas desta diretoria;

(g) Propor para apreciação e aprovação da Diretoria os nomes dos Diretores Adjuntos dos Departamentos de Pesquisa, Publicação e Educação Permanente;

(h) Estimular e colaborar com o trabalho dos Diretores Adjuntos dos Departamentos de Pesquisa, Publicação e Educação Permanente;

(i) Consultar os diretores adjuntos dos respectivos departamentos como estratégia para aumentar a eficácia desta Diretoria Científica e de Desenvolvimento Profissional Contínuo.

 

 SBMFC: A SBMFC é uma Sociedade médica científica. Como é feito o incentivo para os médicos de família e comunidade produzirem artigos e estudos? 

Giuliano: São várias frentes, atualmente temos enfatizado estrategicamente os Grupos de Trabalho (GTs), já com número de 24,. Um deles é sobre inovação em saúde e diretrizes clínicas. Estamos trabalhando com revisão de conduta, todos os GTs têm frentes específicas com jornadas e atividades que levam ao desenvolvimento do processo de ensino.

Outra estratégia sempre é o congresso, que estimula muito a produção de trabalhos e outras formas de produção científica ,que se encontram naquele tempo/espaço, possibilitando trocas entre estudantes de graduação em medicina, demais profissionais de APS, até docentes e pós graduandos (lato e strictu sensu).

A cada nova edição do Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade há novos recordes de inscrições de trabalhos. Em formato de pôsteres e Comunicação Oral Coordenada, a submissão e exposição de trabalhos no maior evento de APS do Brasil estimula a produção cientifica. Na grade de programação, há também palestras e atividades sempre pautadas na Medicina Baseada em Evidência.

Sobre estudos de maior impacto, temos a RBMFC que teve mudanças ao longos dos anos e hoje está indexada à Lilacs.  A revista é uma maneira de compilar o cotidiano dos profissionais nas UBSs e prática clínica diária. Temos ainda também participação efetiva no Conselho Científico da Associação Médica Brasileira. Todo mês, há reunião com todas as entidades filiadas para discussão de termos científicos.

Complemento de Leonardo Fontenelle: Uma forma de incentivo é o completo financiamento da Revista pela SBMFC. Dessa forma, nem os autores precisam pagar para publicar, nem os leitores precisam pagar para ler.

 

 

SBMFC:  Quais são os passos que um médico de família deve seguir ao iniciar uma pesquisa cientifica? 

Giuliano: De alguma maneira, todos os cursos de graduação têm alguma disciplina de metodologia de pesquisa ou científica, isso já e algo que vem na formação do médico. Para uma formação completa, a pesquisa é parte muito importante.

Na pós graduação, os programas de residência, que são a formação de “padrão ouro” para a especialidade, têm-se a necessidade de um TCC para conclusão.  De alguma maneira, essas teses impulsionam a produção na residência. Ainda temos a formação  Strictu sensu, com mestrado e doutorado, que têm um peso muito maior de publicação com impacto e crescimento da abordagem e pesquisa dos temas pertinentes a sua respectiva área. 

Complemento de Leonardo Fontenelle: A validade do conhecimento científico depende da utilização de métodos adequados, que dificilmente serão adquiridos durante a graduação ou a residência. Dessa forma, o médico de família e comunidade deve desenvolver uma parceria com um pesquisador, tipicamente um professor universitário com pós-graduação estrito senso, ou então o próprio médico deve fazer mestrado e, preferencialmente, também doutorado.

 

SBMFC: Há no Brasil, uma comunidade científica com foco em APS que estimule este tipo de produção? 

Giuliano: Hoje, temos a Rede APS, ligada à ABRASCO. Da SBMFC, temos como membros Magda Almeida, Sandro Rodrigues e Thiago Trindade.

 

SBMFC:  Existe um crescimento de publicações com foco na especialidade? 

Giuliano: A RBMFC tem avançado, um dos termos da Capes que desejamos inserir é o campo medicina de família e comunidade, para que possamos ter um aumento de publicações relacionadas à especialidade para que a Capes a reconheça como um campo de produção (incentivo). Há necessidade de mais publicações frisando o tema para que seja um campo de produção específica. Utilizar descritores da MFC para que no futuro tenhamos esse campo de produção cientifica nos artigos que estão em fase de publicação atualmente, é de grande auxilio para a ciência na Medicina de Família e Comunidade.

 

SBMFC:  É possível mensurar o impacto na Medicina Baseada em Evidência na vida dos pacientes? 

Giuliano: A Medicina Baseada em Evidências é um dos pilares da prática médica e temos estimulado a discussão nos GTs e congressos com temas de boas práticas, com abordagem centrada na pessoa, que tem sido amplamente divulgada na graduação e nos programas de RM. Difícil dizer quanto na prática tem se dado.

A SBMFC tem uma parceria com os movimentos Choosing Wisely Brasil e Slow Medicine, que são iniciativas que valorizam as melhores evidências na tomada de decisão clínica e como ferramentas da prática do MFC. Estimulamos sempre que o profissional busque as melhores evidências para sua prática.

Complemento de Leonardo Fontenelle: De uma forma geral, não se mede o impacto da medicina baseada em evidências. Em primeiro lugar, porque a prática médica tem um escopo muito amplo, não seria viável medir o quão baseadas em evidências seria todas as condutas. Em segundo lugar, considera-se que o impacto da MBE seja óbvio. Quando existem evidências sólidas de que uma conduta seja melhor do que outra, isso significa que existe um alto grau de certeza de que adotar uma conduta em vez de outra seja benéfico para a grande maioria das pessoas. Em vez de medir o impacto da prática da MBE, o que se faz então é estudar como fazer que as evidências sejam efetivamente incorporadas à prática.
 

SBMFC:  Como a Medicina Baseada em Evidências está sendo aderida pelos próprios médicos? 

Giuliano: Por meio da Prática clínica e tomada de decisão, nas nossas comunidades colaborativas, comunicação que ocorre via mídias sociais e site da SBMFC. Em todas as nossas redes sempre estimulamos que mais médicos utilizam a medicina baseada em evidência.

Outro ponto, é o desenvolvimento continuado, que engloba as parcerias da SBMFC com outras entidades para promoção de cursos de atualização como, por exemplo de  o Onco-hematologia na APS , em parceria com a Abrale.. Os GTs têm também cursos presenciais e encontros semanais.

Na diretoria científica também foi criada a Chancela de Cursos. Isso conferiu benefícios aos sócios adimplentes por terem maior desconto e cursos qualificados, além de promover a homogeneidade a todos que querem inovar e oferecer qualificação em algum tema/conhecimento ou habilidade e ainda tem dado retorno econômico para a SBMFC com um percentual do arrecadado, bem como aumento da adimplência.

 

SBMFC: Os alunos se formam com expectativa de produção de estudos durante a carreira? 

Giuliano: Há um número pequeno de estudantes que tem  realmente interesse em seguir a área de pesquisa. Nas universidades públicas isso parece ser mais estimulado, mas há uma recomendação do MEC para que todos os cursos estimulem a produção científica . Aquele que se aprofunda tem uma possibilidade e condição que aprimora a atuação clínica do profissional.

Entre as atividades promovidas, temos o Estágio Nacional de Medicina de Família e Comunidade, inciativa da diretoria, junto à Alasf e Denem, para atrair alunos de graduação do 5º ao 12º período. E como fazem parte da Medicina Baseada em Evidência, é uma maneira de estimular a produção cientifica indiretamente.

Os alunos que estão no internato e desejam fazer o estágio, podem se inscrever, desde que a faculdade permita um estagio optativo.

 

SBMFC: Qual o papel das universidades no fomento à pesquisa científica? 

Giuliano: Total, hoje basicamente todas as pesquisas são atreladas a um laboratório ou linha de pesquisa de uma universidade. E esse é o caminho para quem quer começar a fazer pesquisa, ou seja, procurar um profissional que já atue e que tem tenha formação de mestrado e doutorado.

 

SBMFC: Os Grupos de Trabalho contribuem para a ciência na MFC de que forma? 

Giuliano: Muito, via comunicação de prática e comunicação colaborativa, os GTS fazem cursos de aprimoramento como Jornada de dor, Cuidados Paliativos estão desenvolvendo uma pós-graduação no Ceará. São vários os exemplos de como os GTs têm produzido ciência, como a realização período de eventos.

 

SBMFC:  Deseja acrescentar alguma informação? 

Giuliano: Sim, estimular o envolvimento de estudantes de graduação, residentes e MFCs para se envolverem com produção científica e pesquisas em APS. Os GTs da SBMFC podem acolher os novos interessados nos respectivos temas e áreas de interesse. No CBMFC 2019, esperamos ter novamente mais de 2500 trabalhos de pôster e comunicação oral submetidos. O prazo é 25/02! Não deixe de enviar aquilo que você possa ter começado e desanimou. É uma excelente oportunidade para concluir e compartilhar, com o rigor científico preconizado, sua produção com os demais participantes do evento, além de publicar nos anais do congresso.