SBMFC entrevista Leonardo Fontenelle e Thiago Sarti: Vamos falar sobre a RBMFC?

15 de fevereiro de 2019

Leonardo Fontenelle é Médico de família e comunidade, diretor científico da ACMFC, Preceptor do PRM de MFC e professor do Programa de Interação Serviço, Ensino e Comunidade (PISEC) da graduação em medicina da Universidade Vila Velha (UVV). Mestre em Saúde na Comunidade (FMRP/USP) e doutor em epidemiologia (FM/UFPel). 

Thiago Sarti é Médico de família e comunidade, Professor Assistente do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espirito Santo (UFES). Mestre em Saúde Coletiva pelo Programa de Pós-graduacão em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (2015).

SBMFC: Qual a importância da Revista para todos os profissionais que atuam nas Atenção Primária, não só do Brasil, mas de outros países?

Dr. Thiago – Temos sempre em mente que a RBMFC é um dos principais meios para alcançarmos a maturidade científica da MFC no país. Todos os países com APS forte possuem também qualificados instrumentos de divulgação científica, dentre eles periódicos acadêmicos. E mesmo países que ainda vislumbram um longo caminho para expansão da APS, como é o caso dos EUA, investem em pesquisa e publicações acadêmicas de impacto. Desta forma, o Brasil está no caminho certo investindo em uma revista com as características da RBMFC. Por outro lado, o Brasil tem muito a ensinar em APS para o mundo. Temos desafios enormes pela frente na organização da APS no país, mas nossas experiências podem servir de exemplo para outros países, não só nos aspectos de competência clínica do MFC.

Dr. Leonardo – A missão da RBMFC é justamente o desenvolvimento acadêmico da APS, com foco na MFC. Os artigos são escolhidos em função não apenas de sua validade, mas também de sua relevância para quem trabalha com APS. Isso inclui desde pesquisa até artigos de opinião, revisão clínica, caso clínico e relato de experiência.

SBMFC: Atualmente, qual o escopo da RBMFC?

Dr. Leonardo – A RBMFC tem um escopo amplo, aceitando artigos relevantes que sejam relevantes para os MFC ou para quem trabalha com APS em geral. Por um lado, a RBMFC publica artigos de pesquisa com uma gama de temas, como prática clínica, ensino e gestão, além de métodos de pesquisa. Ou seja, a RBMFC não publica apenas pesquisa para ser lida por pesquisadores (na área de APS), mas também para ser lida por profissionais que trabalham na APS no dia-a-dia. Além de pesquisa, a RBMFC também publica artigos de opinião, revisão clínica, caso clínico, relato de experiência e resenhas. Essas seções são mais democráticas no sentido em que mesmo quem não é pesquisador consegue colaborar; o público-alvo dessas seções até inclui pesquisadores, mas em geral são principalmente os profissionais da ponta.

Dr. Thiago – Definir o escopo da RBMFC é um desafio para todo o corpo editorial. Há um desejo, já antigo dentre os editores que colaboram ou já colaboraram com a revista, de maior investimento em temas clínicos, sejam pesquisas originais ou revisões e guidelines. É importante que a MFC brasileira invista mais neste sentido, dando às publicações sua identidade, o que inclui a formulação de questões de pesquisa relevantes e de impacto para o contexto da APS. É neste sentido que talvez os programas de residência da área possam ser atores de destaque. Contudo, entendemos que no momento a revista nem pode nem consegue se concentrar neste escopo, sendo de grande valia pesquisas originais bem conduzidas no contexto da APS/MFC.

SBMFC:  Como é feita a seleção dos artigos que serão publicados?

Dr. Leonardo – Quando os autores enviam um trabalho à RBMFC, o corpo editorial confere o atendimento às condições de submissões (inclusive a ausência de plágio), bem como confere preliminarmente a qualidade do trabalho enviado. A seguir, o trabalho é enviado para avaliação por pares, que são revisores externos escolhidos em função de dominarem o tema e/ou os métodos do trabalho. A avaliação por pares é duplo-cega, ou seja, autores e revisores não sabem um a identidade do outro. O editor responsável pelo trabalho toma sua decisão a partir da avaliação por pares, e geralmente a aprovação é condicionada à implementação de ajustes recomendados pelos revisores. Em 2018, cerca de metade dos trabalhos enviados foram aprovados na avaliação preliminar e, destes, cerca de um quarto foi aprovado após avaliação por pares. Dentre os trabalhos publicados, o tempo médio da submissão à publicação foi de dois meses.

Dr. Thiago – Para além do que o Leonardo já disse, importante destacarmos a necessidade dos autores se atentarem para o escopo da revista e a qualidade dos manuscritos submetidos. Ainda temos um quantitativo grande de submissões que são rejeitadas logo na primeira revisão pelo editor ou por não se enquadrarem no escopo da revista ou por terem problemas graves de formulação de objetivo, desenho da metodologia ou escrita. Além disso, nosso fluxo editorial poderia ser ainda mais consistente com uma maior participação de revisores. Por isso convidamos todos os MFC com experiência científica a colaborar com a revista. Este canal será mais forte à medida que a participação dos profissionais da área for maior.

SBMFC:  Quantos acessos o site tem por mês?

Dr. Thiago – Em 2018, tivemos quase 84 mil acessos ao site da revista, o que corresponde a uma média de quase 7 mil acessos por mês.

SBMFC: É possível mensurar quantos artigos já foram publicados desde a fundação?

Dr. Leonardo – A RBMFC publicou 764 artigos de 2004 a 2018.

SBMFC: Como submeter um artigo na RBMFC?

Dr. Leonardo – A submissão de artigos é feita através da plataforma eletrônica da revista, em https://rbmfc.org.br/. A página de submissão traz as informações necessárias para a preparação e envio dos artigos, referenciando as políticas editoriais da RBMFC quando necessário.

Dr. Thiago – Pedimos atenção especial dos autores às novas normas da revista publicada no início no ano.

SBMFC: Há algum critério diferenciado das demais publicações para submissão dos artigos?

Dr. Thiago – Não. Nosso fluxo editorial é compatível com as melhores práticas editoriais.

SBMFC: Além do Lilacs, LatinIndex, PKP, Road e Sumários.org, há previsão de alguma nova indexação? Ainda, qual a relevância dessas indexações?

Dr. Leonardo – Até o momento, nosso foco tem sido o aprimoramento das práticas editoriais, incluindo uma atualização das políticas editoriais e uma recomposição do corpo editorial. Em 2019, pretendemos ampliar a indexação da RBMFC, pleiteando a inclusão na MEDLINE (que compõe a PubMed) e no DOAJ; informaremos quando houver notícias mais concretas neste sentido. A inclusão da RBMFC na MEDLINE é importante para dar maior visibilidade aos artigos, de forma que possam ser encontrados através de buscas realizadas no PubMed. A inclusão no DOAJ é importante para o reconhecimento da RBMFC no exterior, pois em muitos países as pessoas têm dificuldade para diferenciar revistas de acesso aberto com boas práticas editoriais (como a RBMFC) das chamadas “revistas predatórias”.

Dr. Thiago – Tínhamos como meta principal o pleito para entrada na coleção ScieLo. Chegamos a participar de eventos da coleção, buscando entender os pontos que deveríamos prestar mais atenção para conseguirmos essa indexação. Mas hoje entendemos que MEDLINE e DOAJ são as prioridades para o curto prazo. Estão aí as principais portas que abrirão novos caminhos para a revista.

SBMFC:  Quantas pessoas estão envolvidas nas atividades da Revista? 

Dr. Thiago – Somos em três editores principais, uma secretária executiva, uma equipe de gestão da revista contratada para tal e aproximadamente 280 editores associados e revisores. Ou seja, a revista é construída a muitas mãos. Nosso desafio atual é articular melhor essas pessoas, para que não haja sobrecarga de ninguém.

SBMFC: Por que um autor deve ter um artigo publicado na RBMFC?

Dr. Thiago – Como eu disse anteriormente, acreditamos que a RBMFC seja um instrumento fundamental de fortalecimento da MFC no Brasil e no mundo. Para além dos ganhos pessoais ao ter um artigo publicado, creio que isto é uma contribuição que o autor dá à própria APS e MFC. E os maiores beneficiados disso são as pessoas cuidadas por milhares de profissionais de saúde diariamente. Bons artigos, falando de temas que dialogam diretamente com os desafios de nossa prática cotidiana, tem esse triplo efeito: qualifica nosso currículo, nossa especialidade e o cuidado às pessoas.

Dr. Leonardo – A RBMFC é o principal periódico científico em MFC e APS no Brasil, e um dos principais da Ibero-América. De acordo com uma recente pesquisa de opinião (https://thinkchecksubmit.org/2018/12/19/survey-reveals-need-for-good-guidance-about-trustworthy-places-to-publish-research/), esse é o critério mais importante para autores de todo o mundo. Se ninguém vai ler, para que escrever? O alcance da publicação é facilitado também pela política de acesso aberto da RBMFC, que permite a qualquer pessoa ler e redistribuir os artigos. Mesmo sendo uma revista de acesso aberto, a RBMFC não cobra qualquer taxa dos autores, porque é completamente financiada pela SBMFC.

SBMFC: Sobre os editores, queremos conhecê-los um pouco mais: 

Por que aceitaram o desafio de estarem à frente de uma revista científica?

Dr. Thiago – Recebi o convite em 2015 para atuar como editor da revista em parceria com o Gustavo Gusso e o Paulo Poli. Naquele momento, não tinha em mente essa possibilidade, mas vi nela a chance de colaborar mais com a MFC. Desde então tenho trabalhado nessa frente e aprendido bastante. Uma meta, caso o trabalho seja bem avaliado pelas diretorias da SBMFC, é permanecer nesse espaço por um tempo razoável de forma a ver o início e o fim de alguns processos que estamos implementando.

Dr. Leonardo – Ser editor científico é uma oportunidade ímpar de qualificar a disseminação do conhecimento científico, além de propiciar contato íntimo com as novidades da área. Além disso, tenho um grande apego com a RBMFC desde o tempo em que eu nem tinha concluído o mestrado, e a revista era distribuída em formato impresso para os sócios da SBMFC. É fantástico ter acesso a pesquisas conduzidas para responder a questões pertinentes à nossa realidade, pois nem tudo o que vale para a atenção secundária e terciária vale para a atenção primária e, na prática, nem tudo o que vale para outros países faz sentido no Brasil.

SBMFC: Por que escolheram a Medicina de Família e Comunidade como especialidade?

Dr. Thiago – Tive muitas dúvidas durante a faculdade e a MFC é a especialidade que melhor traduz meus valores pessoais com meus desejos profissionais. A possibilidade de cuidar de pessoas em suas mais variadas necessidades e poder desempenhar múltiplas funções dentro de uma mesma especialidade me atrai muito.

Dr. Leonardo – A MFC é uma especialidade médica muito estimulante, pois abrange uma grande variedade de condições clínicas ao mesmo tempo que foca nas pessoas, e não só em suas doenças.

SBMFC: Em quais áreas atuam?

Dr. Thiago – Atualmente meu vínculo empregatício é como professor da Universidade Federal do Espírito Santo, onde atuo como coordenador e professor de disciplinas e estágios ligados à APS/MFC e exerço atividades de pesquisa e gestão.

Dr. Leonardo – Além de ser editor da revista, sou analista legislativo em saúde (cargo efetivo) e professor universitário, atuando tanto na graduação em medicina quanto na residência em MFC.

SBMFC: Têm artigos publicados? Quais?

Dr. Thiago – Desde o mestrado tenho me dedicado mais a questões de pesquisas voltadas às políticas de saúde. Recentemente criamos um grupo de pesquisa CNPQ no Espírito Santo que está mais voltado a pesquisas específicas em MFC, cujos resultados iniciais ainda estão para serem concluídos. É neste sentido que tenho atuado mais nos âmbitos de avaliação de serviços de saúde, telessaúde, cuidado integral a condições crônicas e tenho publicado algumas coisas na RBMFC mais voltadas à qualidade das publicações científicas.

Dr. Leonardo – Todos os autores da RBMFC têm pelo menos alguns artigos publicados, naturalmente! É difícil julgar o trabalho alheio sem desenvolver experiência própria. Meus artigos estão listados em meu currículo Lattes (http://lattes.cnpq.br/9234772336296638) e em meu perfil ORCID (https://orcid.org/0000-0002-1062-4322). Talvez o mais interessante seja destacar que cinco desses artigos são pesquisas publicadas na RBMFC (sem contar com os editoriais). Sendo um pesquisador em MFC/APS, naturalmente a RBMFC é uma das principais opções de revista para onde enviar artigos!