The Lancet – A recessão econômica no Brasil resultou em um número maior de mortes em populações vulneráveis

16 de outubro de 2019

Artigo publicado na revista The Lancet Global Health, na edição de 10 de outubro, mostra o impacto da recessão econômica no Brasil com o aumento da mortalidade em populações vulneráveis, entre 2012 a 2017, porém em municípios com maiores gastos no SUS e no Bolsa Família as mortes em excesso devidas à recessão foram evitadas.

A recente recessão econômica no Brasil aumentou as taxas de mortalidade adulta em 4,3% entre 2012 e 2017, de acordo com pesquisa publicada esta semana no Lancet Global Health por pesquisadores do Brasil e Reino Unido. A economia do Brasil contraiu quase 8% entre 2014 e 2017, o que resultou em aumento do desemprego e maior pobreza. Os pesquisadores descobriram que isso levou a uma maior taxa de mortalidade, concentrada em negros e pardos, homens, e pessoas em idade ativa.

O estudo examinou as taxas de mortalidade em 5.565 municípios brasileiros entre 2012 e 2017. Os pesquisadores atribuem 31.000 mortes adicionais à recessão. No entanto, nem todas as áreas do Brasil foram afetadas negativamente pela recessão, uma vez que os municípios com maiores gastos no SUS e no Bolsa Família apresentaram nenhum ou pequenos aumentos na mortalidade.

Os autores do estudo concluem que há implicações políticas importantes.  “As recessões parecem particularmente ruins para a saúde em países que não possuem programas de assistência médica e proteção social fortes. É essencial que o Brasil proteja os investimentos no SUS e no Bolsa Família, pois esses programas reconhecidos internacionalmente fornecem proteção vital para a saúde e o bem-estar do país”, afirma o autor principal do estudo, Dr. Hone, do Imperial College London.

“O estudo mostra que a recente recessão foi muito prejudicial à saúde dos brasileiros, com os membros mais vulneráveis da sociedade sendo os mais afetados negativamente. Investimentos no SUS e em programas de proteção social, como o Bolsa Família, são de vital importância para proteger a saúde e o bem-estar dos brasileiros, especialmente durante períodos de dificuldades econômicas”, ressalta Dr. Rudi Rocha, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) e coordenador de pesquisas do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS).

Os autores afirmam que esses resultados são consistentes com estudos na Europa, onde o impacto da recessão econômica foi menor em países com fortes programas de saúde e proteção social, incluindo acesso a seguro-desemprego e apoio à reciclagem de habilidades para as pessoas que perdem seus empregos. Por outro lado, muitos brasileiros estão inseridos informalmente no mercado de trabalho, em empregos mal remunerados e sem acesso a seguro. Portanto, é crucial que o financiamento do SUS e programas de proteção social como o Bolsa Família sejam protegidos e não cortados, diz o estudo.

O estudo foi realizado como parte de um programa conjunto Brasil-Reino Unido de pesquisa sobre o sistema de saúde brasileiro. O Dr. Thomas Hone e o Prof. Christopher Millett estão vinculados à Escola de Saúde Pública do Imperial College London. Entre os pesquisadores brasileiros, estão os pesquisadores Mauricio Barreto (Cidacs/Fiocruz), Davide Rasella (UFBA), Rômulo Pases-Sousa (Instituto René Rachou Fiocruz Minas em Belo Horizonte), e  Rudi Rocha (FGV EAESP e IEPS).